Toda intervenção urbana é importante, desde as mais complexas até as relativamente simples que muitas vezes passam despercebidas aos olhos de todos.
É fato que todo político quer uma obra pra chamar de sua e ter a satisfação de ver seu nome na placa de inauguração. Quanto maior e mais chamativa, mais eleitores poderão ver suas "conquistas" entregues a cidade. Neste cenário, infelizmente o ditado popular "obra debaixo da terra não dá voto" acaba vindo a tona, pois na mentalidade de políticos oportunistas "se aquilo não é visto, não é lembrado".
Mas o verdadeiro chefe do executivo com visão empreendedora sabe que obras de infra ajudam na redução de gastos da prefeitura e evitam futuros problemas. Desta forma, o tema desta publicação são as clássicas valetas.
As valetas em vias públicas são elementos comuns em diversas cidades e têm como principal função o escoamento de águas pluviais. Elas são frequentemente utilizadas em cruzamentos e entradas de garagens para direcionar a água da chuva para bueiros e redes de drenagem, evitando alagamentos e erosões no pavimento. São mais comuns em vias locais mas não é dificil encontra-las em vias com alto fluxo de veículos.
Apesar dessa funcionalidade, as valetas apresentam desvantagens significativas. Entre os principais problemas estão o desconforto e a insegurança para motoristas, ciclistas e pedestres. Veículos podem sofrer danos na suspensão e na estrutura ao passar por valetas profundas, enquanto ciclistas podem perder o equilíbrio e pedestres podem ter dificuldades de atravessar ruas com valetas mal planejadas. Além disso, a presença dessas estruturas pode dificultar a acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida.
Uma valeta mal planejada pode trazer grandes prejuízos aos motoristas que por ela passam como:
- Danos aos pneus e suspensão do veículo, sejam carros de passeio ou veículos de carga ou transporte público;
- Riscos de quedas e acidentes a motociclistas e ciclistas;
- Atrasa o fluxo da via, por conta da redução excessiva de velocidade;
- Grande desconforto para passageiros, principalmente usuários de transporte público, devido aos solavancos causados ao passarem pela valeta.
E acredite, as valetas causam tantos prejuízos que são usadas até por bandidos para dificultar a chega da polícia em bairros da periferia de algumas cidades.
Valeta com buracos no bairro Jardim Irajá em Ribeirão Preto - G1 |
Saiba mais: Com valetas grandes nas ruas, amortecedores duram menos tempo que o ideal em Botucatu
Vídeo: Valetas geram prejuízos aos motoristas que trafegam nas ruas de Araçatuba
Vídeo: Valetas geram prejuízos aos motoristas que trafegam nas ruas de Araçatuba
Raio X de uma valeta
Em teoria as valetas teriam a função de direcionar as águas pluviais sem prejudicar a passagem de veículos pelo local. Com base em alguns modelos existentes, segue um esquema simples de como seriam as valetas adequadas.
Mas na realidade estes tipo de valetas são bastante difíceis de encontrar, sendo que o modelo mais comum visto nas ruas são justamente as valetas profundas:
O ex-secretário de transportes internos de Piracicaba chegou a ser mais radical em dizer na época que as valetas não funcionam e atuam mais como um mero placebo para resolverem a curto prazo um problema de longo prazo. De todo modo ele não está errado, uma vez que as valetas acabam sendo de fato uma solução simplista e barata perante a um problema mais graves que são os alagamentos causados pelo excesso de águas pluviais correndo em uma superfície impermeável.
Saiba mais: Estudo aponta que valetas não funcionam
Valetas em Ribeirão Preto
Em Ribeirão a situação não é diferente. É muito comum encontrarmos valetas totalmente fora das especificações técnicas até mesmo em vias coletoras de grande fluxo de véiculos. Entre os problemas estão:
- Profundidade excessiva das valetas;
- Pavimento gasto, provocando buracos em torno da valeta;
- Falta de sinalização de advertência alertando sobre a presença de valetas (placa A-19 Depressão);
- Recapes realizados próximos as valetas sem a adaptação da mesma, propiciando a criação de "degraus";
Como se não bastasse a falta de alternativas para as valetas e ausência total de manutenção das mesmas, já se foi ouvido da própria prefeitura de Ribeirão Preto em administrações anteriores que as valetas tem a função de "reduzir a velocidade dos veículos".
Nota RT: Se a prefeitura quer reduzir a velocidade dos veículos, que se utilize dispositivos de Traffic Calming, que alem de cumprirem sua função, não danificam os veículos que por ali passagem. Esta resposta com certeza não veio de um profissional, mas sim de uma pessoa absolutamente despreparada em resolver os problemas da cidade e que ainda possui uma mentalidade retrógrada totalmente alheia as novas tecnologias da engenharia.
Valeta acentuada em Piracicaba - SP - Câmara de Piracicaba |
Saiba mais: Estudo aponta que valetas não funcionam
Ideia utópica de hoje
Para eliminar as valetas e melhorar a infraestrutura viária, algumas soluções são recomendadas. Uma alternativa eficiente é a substituição por sarjetas rebaixadas com grelhas ou sistemas subterrâneos de drenagem, que permitem o escoamento da água sem criar desníveis na pista.
Outra abordagem é a adoção de pavimentos permeáveis, que auxiliam na absorção da água da chuva, reduzindo a necessidade de drenagem superficial. Além disso, projetos de requalificação urbana podem incluir o nivelamento adequado da via para garantir um fluxo de água eficiente sem comprometer a segurança e o conforto dos usuários.
As alternativas que serão apresentadas ajudam a resolver o problema das valetas profundas, mas que outras medidas mais complexas também precisam ser executadas. Confira algumas delas abaixo:
- Criação de valetas adequadas em vias de baixo fluxo de veículos;
- Eliminação de valetas em vias de médio e alto fluxo;
- Tubulação sob o asfalto;
- Implantação de bocas de lobo;
- Bueiros inteligentes;
- Criação de uma plano de macro drenagem;
1- Criação de valetas adequadas em vias de baixo fluxo de veículos
Em locais que não compense financeiramente ou estruturalmente a instalação de bocas de lobo (mesmo eu acreditando que todas as esquinas devam te-las), é possível a criação de valetas eu via locais (preferencialmente residenciais) de forma que não prejudiquem o fluxo de veículos. Podem ser construídas usando blocos sextavados, paralelepípedos ou concreto, desde que sejam perpendiculares a sarjeta.
No exemplo abaixo, valeta em rua do Ipiranga. Mesmo não sendo perpendicular, a profundidade da mesma é bem mais suave em comparação com outras espalhadas pela cidade.
2- Eliminação de valetas em vias de médio e alto fluxo
Ruas com tráfego intenso não devem ter valetas por menor que seja sua interferência. Ruas como a Marques de Pombal nos Campos Elísios devem ser desimpedidas de qualquer elemento que provoque lentidão ou danos nos veículos que por ela passam. Para isso seguem as sugestões dos itens a seguir.
No exemplo a seguir, valetas na Marques de Pombal próximo a praça Rômulo Morandi, uma via que alem de possuir um grande fluxo de veículos nos Campos Elíseos, também é rota do transporte coletivo urbano.
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3- Tubulação sobre o asfalto
Dica enviada pelo Evandro Semighini. Na esquina das ruas Barão do Amazonas com Prudente de Morais no Centro, foi instalado um cabo sob o pavimento no lugar de uma valeta convencional. Esta seria uma alternativa boa para ruas específicas.
Abaixo, tubulação instalada como alternativa as valetas. Em destaque a seta verde indica o bocal de saída do cano enquanto a linha verde a trajetória do mesmo.
4- Implantação de bocas de lobo
As bocas de lobo promovem a drenagem das águas até as galerias pluviais. Podem ser do tipo localizado nas guias ou nas sarjetas da via. Devem ser instaladas de forma a não acumular água e não prejudicar a travessia de pedestre (sendo instaladas antes da travessia para pedestres) e passagem de veículos, alem de impedirem que a água atravesse o cruzamento.
Esquerda um modelo de boca de lobo de guia e boca de lobo de sarjeta - Ebanataw |
Instalação adequada das bocas de lobo em um cruzamento Foto via: Ebanataw |
A boca de lobo não deve ter uma abertura muito grande (para evitar a queda de pessoas em situações de grandes enxurradas) e nem muito pequenas (para evitar que detritos como garrafas, papeis, latas e etc venham a entupir a entrada da boca de lobo).
Sabia mais: Bocas de lobo - Tipos, dimensionamento e vazão
Observação: não confunda bocas de lobo com poços de visita ou poços de inspeção, que possuem tampas redondas e normalmente ficam no cruzamento das vias e calçadas. Estas estruturas servem para que funcionários possam entrar e fazerem a manutenção necessária.
5- Bueiros inteligentes
Aproveitando a ideia anterior, parece estranho permitir que lixo entre bueiro a dentro, provocando futuros entupimentos do sistema. Por isso cidades como São Paulo estão instalando os chamados bueiros inteligentes. Uma das medidas é instalar uma espécie de cesta dentro do bueiro chamados de Ecofiltros, evitando que este lixo caía na rede de drenagem.
O sistema facilitaria sua limpeza e diminuiria os custos envolvidos no processo.
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Funcionários fazendo a limpeza de ecofiltro em bueiro - Prefeitura de São Paulo |
Outra forma de acompanhar o estado dos bueiros é com a instalação de chips que detectam a situação atual da estrutura, alertando sobre entupimentos e prevenindo possíveis alagamentos.
Saiba mais: Modelo conceitual de um sensor microcontrolado 3G para automação do controle de saturação de dispositivos de drenagem urbana (bueiro) aplicado a cidades inteligentes (em PDF).
6- Criação de um plano de macrodrenagem
Todas as medidas acima se tornarão mais eficientes caso a cidade bote em prática o Plano Diretor de Macrodrenagem, engavetado pela prefeitura desde 2009. A grosso modo estamos falando de saneamento básico, algo que envolve abastecimento de água, destinação de águas pluviais, coleta de lixo e rede de esgoto. Ele é composto por:
- Drenagem urbana convencional
- Sarjetas;
- Bocas de lobo;
- Galerias;
- Despejo em rios;
- Canalização de córregos.
- Técnicas de manejo sustentável
- Telhados ecológicos;
- Pavimento poroso;
- Valas e poços de infiltração;
- Microrreservatórios;
- Telhado reservatório;
- Restauração de margens;
- Faixas de infiltração;
- Reservatórios de amortecimento.
Conclusão
A modernização dos sistemas de drenagem é essencial para tornar as cidades mais acessíveis, seguras e eficientes. Com soluções urbanísticas bem planejadas, é possível eliminar as valetas e melhorar significativamente a qualidade da mobilidade urbana.
Obrigado pela audiência e nos vemos na próxima publicação.
Links para pesquisa
Links para pesquisa
- Obras debaixo da terra não dão voto, por Oswaldo Mendes
- Afinal de contas, para que servem as valetas?
- Valetas em ruas no bairro Jardim Virgínia causam prejuízos a motoristas
- Manejo de águas pluviais urbanas (em PDF)
- Planejamento de Sistemas Municipais de Drenagem e Manejo de Águas Pluviais (em PDF)
- UOL TAB - Desenhe sua cidade: proposta quatro - Bueiros Conectados
- Sistema inteligente de monitoramento em bocas de lobo evita enchentes na região de Santana
- Boca de lobo - Informações gerais
- DRENAGEM URBANA - Atualização do Plano Diretor de Macrodrenagem de Ribeirão Preto
Atualizado em 22/02/2025
Dica sugerida por Evandro Semighini (via Facebook)
Artigo atualizado com auxílio de IA (GPT-3.5)
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