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SCSI - Sistema de Coleta Seletiva Integrada

A proposta de implementação de ecopontos apresentada em Junho de 2015 teve uma boa repercussão. Nela nós explicamos as vantagens de Ribeirão Preto ter espaços destinados para a coleta de galhos, restos da construção civil, lixo eletrônico e demais inservíveis. Passado um ano, Ribeirão continua sem ecopontos, mas ganhou uma estrutura parecida e que está em caráter de testes: o projeto Caçamba Social.

Basicamente são três caçambas localizadas em áreas com alto índice de descarte irregular de entulho e as mesmas ficam a disposição da população. A primeira unidade fica localizada na rotatória da avenida Patriarca com Pereira de Freitas, no Jardim Branca Sales (zona oeste de Ribeirão) e chegou a ser expandido para outras regiões como Jardim Juliana, Orestes Lopes de Camargo e Jardim Procópio.

Alem deste projeto, também foi dado início a implantação de um outro projeto chamado Eco Praça, parecido com o Caçamba Social, porem com a diferença de que seriam criados recuos nas calçadas para permitir a acomodação das caçambas em praças com alto índice de descarte irregular de lixo e entulho.


Apesar de todos os esforços da Coordenadora de Limpeza Urbana, o projeto apresentou falhas eu sua execução e manutenção, tendo em vista que o Caçamba Social seria uma versão bastante simplificada em comparação com um ecoponto tradicional. Entre as falhas estão:
  • Posicionamento das caçambas em relação ao solo: muitas pessoas trazem os materiais em veículos com caçamba ou mesmo em carrinhos de mão. Nos ecopontos os veículos utilizam uma rampa de concreto para ficarem acima das caçambas, facilitando o descarte dos materiais. As caçambas do Caçamba Social não tinham nenhuma rampa de acesso e assim o acesso a elas ficava bastante prejudicado, o que acaba incentivando que pessoas deixem o lixo ao lado das caçambas;
  • Demora na remoção dos materiais: a retirada dos entulhos não era constante, e isso contribuía para que as mesmas logo começassem a transbordar de tanto entulho, poluindo todo o terreno onde estavam. 
  • Falta de fiscalização: como as caçambas ficavam em áreas abertas sem controle de entrada e saída, era comum moradores realizarem descartes irregulares como lixo doméstico e animais mortos, o que fazia o local ficar ainda mais insalubre;
  • Local afastado: as poucas caçambas ficavam localizadas no extremo da região oeste da cidade, o que torna o deslocamento de pessoas de outras regiões praticamente inviável e impraticável.
  • Falta de divulgação: muitos moradores não sabem a existência das caçambas, o que acaba causando descartes irregulares até mesmo próximo a região da rotatória. A falta de educação da população é um fato, mas os esforços da prefeitura para orientar são bastante fracos.
Caçambas Sociais zona oeste - Revide

EcoPraça - Jornal da EPTV

Na época a prefeitura de Ribeirão resolve atribuir culpados para a situação, como o preço do aluguel das caçambas praticado na cidade para justificar o alto número de descartes em áreas públicas.

Nota RT: A reportagem da EPTV na época chegou a chamar o local de "ecoponto", o que de fato este projeto não é. Colocar caçambas em praças públicas não irá resolver um problema tão complexo. Sem o menor controle, no local serão descartados quaisquer tipos de materiais, entre eles lixo hospitalar, tóxico, orgânico e até mesmo animais mortos.

Um ecoponto é uma estrutura devidamente fechada e planejada, que destina o material arrecadado para áreas específicas. No máximo estas caçambas infelizmente se tornarão uma lata de lixo de grandes proporções. Respeitamos o trabalho prestado pela CLU, mas existem fatos e atitudes que são impossíveis de se aceitar, sabendo que existem soluções mais eficientes para a cidade. Já basta de soluções de curtíssimo prazo para problemas de longo prazo.

Reciclagem e Cata-Trecos

Alem do projeto Caçamba Social, a prefeitura desempenha outros dois trabalhos voltados ao descarte de materiais. A coleta seletiva atende vários bairros da cidade em dias pré determinados e este material é levado para a cooperativa Mãos Dadas.

Já o projeto chamado Cata-Trecos, seria um serviço onde o usuário liga para o 156 (SAM - Serviço de Atendimento ao Munícipe) e realiza o agendamento para a remoção de algum item inservível com móveis e eletrodomésticos velhos. Neste caso, a pessoa vai precisar aguardar dias para então o caminhão da prefeitura passar pela rua marcada e levar o objeto.

Cidades como Campinas e Sorocaba também utilizam o serviço.

Caminhão do Cata Trecos em Sorocaba-SP - G1

Todas as iniciativas são boas, mas estamos falando de uma cidade com mais de 700 mil habitantes e a infraestrutura e organização para dar destino a estes materiais é pequena e deve atender toda a cidade com eficiência. São inúmeros os benefícios de um bom serviço de coleta seletiva, como:
  • Reduzem a quantidade de descartes irregulares em praças e terrenos;
  • Equipes de limpeza podem ser deslocadas para áreas mais importantes e urgentes da cidade;
  • Facilitam o trabalho de catadores e cooperativas de reciclagem;
  • Diminui a quantidade de lixo domiciliar enviado ao aterro de Guatapará, economizando inclusive gastos com combustível e mão de obra, aumentando inclusive a vida útil do local;
  • Materiais como entulho podem ser transformados em outros materiais, gerando renda e economia para a prefeitura.

Ideia utópica de hoje

Atualização 07/01/25: o projeto Caçamba Social e Ecopraça foram descontinuados, assim como o serviço Cata-Treco. Já o serviço de coleta seletiva ainda opera na cidade, com datas específicas para cada região. Em 2019 foi construído o primeiro ecoponto na cidade, somando aos outro sete que estão em funcionamento, recebendo materiais como entulho, recicláveis, inservíveis e lixo eletrônico.

Ecopontos, cooperativas e recolhimento de inservíveis. Com base nestas demandas, desenvolvi um pré projeto chamado Sistema de Coleta Seletiva Integrada, ou abreviando, SCSI.

O SCSI é um conjunto de ações e estruturas integrados com o objetivo de agilizar o descarte e destinação de qualquer material classificado como inservível, reciclável ou resíduo da construção civil. Este sistema operaria de forma independente do sistema de coleta domiciliar convencional.


O sistema é composto de quatro elementos fundamentais para que possa ser funcional em seu propósito. São eles:

1- Ecopontos

Proposta apresentada em junho de 2015. Um ecoponto seria um terreno adaptado para recolher podas e galhos de árvores, móveis velhos, resíduos de construção (no máximo 1 m³ por morador), lixo eletrônico, materiais recicláveis, pilhas, baterias, óleo usado de cozinha e remédios vencidos. A proposta inclui a construção de 27 ecopontos espalhados em cinco regiões da cidade.



Mapa com a possível localização dos Ecopontos.
Mais detalhes no link completo.

2- Cooperativas de reciclagem

As cooperativas de reciclagem são locais onde todo o material que pode ser reciclado (papeis, latas, vidros e metais) é devidamente separado em esteiras por cooperados e vendidos novamente a indústria em geral, sendo reaproveitado como matéria prima.

Atualmente apenas a Mãos Dadas opera na cidade, processando os materiais recicláveis recolhidos pela equipe da coleta seletiva municipal e por meio de um caminhão próprio da cooperativa. Mesmo passando por várias dificuldades vindas até da própria prefeitura, os cooperados continuam executando o trabalho de separação destes materiais.

Cooperativa Mãos Dadas - Câmara Municipal de Ribeirão Preto



Saiba mais: A Importância das Cooperativas de Catadores

A ideia seria a implantação de outras quatro cooperativas na cidade (Norte, Leste, Sul e Central), que em conjunto com os ecopontos, aumentariam a quantidade de material a ser reaproveitado e reciclado e agilizaria o trabalho do serviço de coleta seletiva e caminhões encarregados de limparem os ecopontos.

Mapa com as regiões definidas e atendidas pelas cooperativas de reciclagem

3- Ecocentros

Os ecocentros são grandes locais aptos para receber e processar o material entregue nos ecopontos. Seria uma forma de centralizar serviços que já existem na cidade como a Usina de Reciclagem de Resíduos Sólidos, que fica na Via Norte na entrada do bairro Simioni.

Os ecocentros poderiam receber materiais inclusive de caçambeiros, evitando assim o descarte irregular deste tipo de resíduo. Outros processos podem ser executados nos ecopontos como o processamento de galhos e podas (transformando-os em abudo e reutiliza-lo em praças e canteiros), descarte correto de móveis e utensílios domésticos (doando-os ou destruindo-os de maneira correta) e qualquer outro material que precise de um destino adequado.

Por questão de logística, os ecocentros ficariam localizados próximos ao anel viário norte e sul, agilizando o deslocamento dos caminhões e ficando fora da área urbana.

Mapa com sugestão de locais para os Ecocentros.

4- Campanha massiva de divulgação

Nenhuma destas ações e alternativas surtirá efeito caso a prefeitura, por intermédio da secretaria de meio ambiente, não realize uma campanha de grandes proporções divulgando os novos locais para descarte destes materiais. É comum ouvirmos pessoas jogarem lixo em locais públicos alegando que não conhecem outra forma de descarta-lo. Claro que isso não seria uma justificativa (manter a cidade limpa é dever de todos), mas quando a prefeitura mesmo não dá a devida atenção ao problema, sobram aborrecimentos.

Uma campanha massiva em escolas, condomínios, associações de bairros, comércio e industria apresentado todos os passos apresentados acima e dar total apoio na questão de dúvidas e sugestões que possam melhorar o sistema. Campanha através de sites, TV aberta e outdoors também ajudam aos moradores conhecerem o novo sistema. É um processo lento e demorado, mas que se bem executado, trará resultados bastante positivos e transformar Ribeirão em referência em relação a coleta seletiva de lixo.

Um exemplo prático e que tem apresentados resultados positivos vem de Curitiba com a Família Folhas, um projeto que visa conscientizar crianças e adultos sobre como realizar o descarte de recicláveis e demais itens inservíveis.

Família Folhas - Prefeitura de Curitiba


Finalizando: PPP

Todos estes projetos presentes no SCSI poderiam ser facilmente inseridos na Parceria Público Privada do lixo em Ribeirão Preto e aprova-la de forma definitiva. Mas devido a tantas irregularidades e promessas um tanto improváveis em um real momento, até a presente dada nada foi resolvido ou finalizado.

Infelizmente muitos planos acabam saindo da esfera técnica e caem na esfera política, onde tudo acontece na base de acordos e "parcerias", sem prazos para serem concretizados sendo que a última audiência pública sobre o assunto foi em 2024.

Conclusão

Em pleno 2024 Ribeirão Preto ainda não possui planos definidos sobre como realizar o descarte correto do lixo e entulho gerados na cidade. Somente um projeto bem estruturado e pensado para longo prazo poderá fazer com que iniciativas como a reciclagem se tornem vantajosas, gerando emprego e renda para todas as pessoas da cadeia de produção.

Ajude a divulgar esta proposta. Compartilhe com seus vereadores, associações de bairro e principalmente com a administração municipal. 

Obrigado pela audiência e nos vemos na próxima postagem.


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