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Edifício-garagem

Por mais que o transporte público de uma cidade seja eficiente, os automóveis ainda continuarão bastante presentes nos grandes centros. Em algum momento do dia estes condutores precisarão de lugares para estacionar, por isso os estacionamentos particulares que cobram por hora, estacionamentos internos de empresas, vagas rotativas e até mesmo ruas nas imediações de áreas comerciais costumam ser bastante utilizadas por este público.

Porem a tendência no médio prazo é que estacionar nas ruas seja cada vez mais dificil (principalmente em vias arteriais) considerando o aumento gradual da frota veicular nacional. Por mais que muitos condutores alegam que "possuem o direito de estacionar na via pública", sabemos que as cidades mudam constantemente, e com o tempo a tendência destas vagas livres serem convertidas em faixas de tráfego, faixas para ônibus ou ciclovias é bastante alta

Construir mais estacionamentos convencionais também não é uma solução eficiente, ainda mais em áreas comerciais onde o espaço já é bastante disputado e limitado. Desta forma, surge a proposta dos edifícios-garagem citada nesta publicação.

Edifício garagem no aeroporto de Guarulhos-SP - Via Portal R7

Edifícios-garagens são estruturas projetadas especificamente para estacionamento de veículos, geralmente construídas em áreas urbanas densas onde o espaço para estacionamento em nível é limitado. Eles podem ter vários andares e podem ser construídos acima ou abaixo do solo, dependendo do espaço disponível e da regulamentação local.

Principais vantagens dos edifícios-garagens:

  1. Otimização do uso do espaço:

    • Em áreas urbanas densas, onde o terreno é escasso e caro, edifícios-garagens permitem estacionar um grande número de veículos em um espaço relativamente pequeno, economizando terreno.
  2. Redução do impacto visual e espacial:

    • Quando bem projetados, esses edifícios podem ser integrados ao ambiente urbano sem comprometer a estética, podendo até servir como base para outros usos (ex.: edifícios mistos com estacionamento e áreas comerciais).
  3. Diminuição do congestionamento em vias públicas:

    • Oferecem uma solução centralizada para o estacionamento, reduzindo o número de veículos estacionados nas ruas, o que ajuda a melhorar o fluxo de tráfego e aumenta a segurança para pedestres e ciclistas.
  4. Flexibilidade no design:

    • Podem ser adaptados para diferentes contextos, com tecnologias como elevadores de veículos, pisos rotativos ou sistemas automatizados que otimizam o uso do espaço.
  5. Possibilidade de usos mistos:

    • Alguns edifícios-garagens são projetados para incluir lojas, escritórios ou áreas residenciais nos andares superiores, maximizando sua funcionalidade.
O edifício pode ser construído de alvenaria ou estrutura metálica e alguns podem funcionar até mesmo de forma automatizada. O acesso entre os pavimentos costuma ser feito por rampas retas entre os pavimentos, rampas helicoidais (tipo espiral) ou elevadores próprios para veículos. Por isso, é preciso fazer uma pesquisa profunda e decidir qual o melhor tipo de estrutura, de acordo com o local que ela será instalada.


Edifício-garagem do São Paulo Expo - Via Cimento Itambé


Como implementar edifícios-garagens em grandes centros urbanos:

  1. Planejamento Urbano Estratégico:

    • Localizar os edifícios-garagens em áreas de alta demanda de estacionamento, como centros comerciais, áreas residenciais densas e próximos a hubs de transporte público.
  2. Integração com o transporte público:

    • Associar edifícios-garagens a terminais de ônibus, estações de trem ou metrô, incentivando o uso combinado de carro e transporte coletivo para deslocamentos urbanos.
  3. Design funcional e sustentável:

    • Utilizar materiais e tecnologias que reduzam o impacto ambiental, como painéis solares, iluminação LED, sistemas de coleta de água da chuva e fachadas verdes.
  4. Sistemas automatizados:

    • Adotar sistemas de estacionamento automatizado, que aumentam a capacidade ao eliminar a necessidade de rampas e espaços extras para manobras, otimizando o uso do espaço interno.
  5. Incentivos econômicos:

    • Criar parcerias público-privadas (PPP) para financiar a construção e manutenção dos edifícios-garagens. Alternativamente, oferecer incentivos fiscais para desenvolvedores privados que implementem soluções de estacionamento vertical.
  6. Regulamentação e política urbana:

    • Ajustar a legislação local para permitir e incentivar a construção de edifícios-garagens, incluindo exigências de sustentabilidade, segurança e integração com o entorno.
  7. Design estético e integrado:

    • Incorporar elementos arquitetônicos que harmonizem o edifício com o contexto urbano, evitando que se tornem meros "caixotes de concreto". Podem incluir revestimentos criativos, arte urbana ou fachadas vegetais.
Edifícios-garagens bem implementados podem contribuir significativamente para a mobilidade urbana e a organização do espaço público, especialmente em cidades onde o crescimento populacional pressiona a infraestrutura.


Ideia utópica de hoje

Estacionar em Ribeirão Preto está cada dia mais complicado, ainda mais com uma frota de mais de 500 mil veículos ativos na cidade. Sempre quando são anunciadas medidas que visam a remoção de vagas de uma via, as reclamações vem a tona, principalmente por parte dos comerciantes.

Contudo a falta de fiscalização acabam gerando flagrantes de vagas sendo reservadas de maneira irregular, seja com uso de cones, caixotes ou mesmo placas, permitindo que apenas alguns veículos possam estacionar no local. Outro caso recorrente é o uso da vaga livre como "extensão do comércio" posicionando produtos e até mesmo veículos à venda em revenda de automóveis.

Oficina na avenida Dom Pedro. Atualmente fechada.

Revenda de carros usados na avenida Dom Pedro.

A situação fica ainda mais tensa quando muitas destas vagas em avenidas comerciais são utilizadas pelos próprios comerciantes e funcionários da região, trazendo dificuldades para os clientes que necessitarem utilizar os serviços da via comercial. 

Atualização 25/01/2025: Em agosto de 2017 a Transerp implantou o sistema de Área Azul na avenida Dom Pedro I. Com isso, grande parte dos veículos que ficavam estacionados durante todo o período do dia simplesmente sumiram, o que reforça a tese anterior sobre aqueles que as usavam de fato.

Posteriormente as vagas foram novamente extintas para a implementação de parte do corredor Leste/Oeste 1 e atualmente as vagas rotativas foram novamente implementadas para uso fora do horário de pico das faixas exclusivas.

Ainda sobre os edifícios-garagem, o Condomínio Garagem Everest na rua Alvares Cabral, com onze pavimentos e funciona com elevadores é o maior do segmento em Ribeirão; alem de vagas disponibilizadas para uso diário, a garagem funciona como um condomínio onde o usuário aluga uma vaga permanente para o veículo.

Outro bem próximo ao Everest é o SE Estacionamento, que faz parte do edifício Center Plaza, nas esquinas das ruas Américo Brasiliense e Visconde de Inhaúma. Saindo da região central, podemos citar o Deck Parking do Ribeirão Shopping, inaugurado em 2016 com 1250 vagas para estacionamento divididos em quatro pavimentos e integrado ao centro de convenções e demais lojas do shopping.

Condomínio Edifício Garagem Everest - Google Street View

Edifício Garagem parcial - Center Plaza  - Google Street View

Deck Parking Ribeirão Shopping - Via TK Vídeos - Vimeo


Apesar de ser uma ideia vinda diretamente da iniciativa privada, é possível a construção de edifícios-garagem públicos como uma forma de compensação na remoção de vagas livres e até mesmo como forma de integração com o transporte coletivo nos deslocamentos de longa distância.

No primeiro caso, os edifícios-garagem poderiam ter parceria com o setor privado (estacionamento particulares) através de uma PPP, onde a construção poderia ser realizada pela prefeitura e gerida por estacionamentos autorizados. Parte das vagas seriam destinadas no mesmo regime utilizado na Área Azul (vagas rotativas) enquanto as demais ficariam a disposição do estabelecimento seguindo o formato tradicional de cobrança por horário. A renda obtida pelo uso da Área Azul seria revertida para a manutenção do edifício e gastos operacionais.

Para o segundo caso, é mais comum em grandes metrópoles terem estacionamentos próximos de estações de metro ou trem, estimulando a integração entre os modais. Em Ribeirão Preto este tipo de proposta ainda é um pouco distante, porem se pensarmos que a cidade tem crescido ao longo dos anos e se aproximado cada vez mais de outras vizinhas que fazem parte da região metropolitana, a ideia passaria a ser discutida e viabilizada.

Exemplo de edifício-garagem com cinco pavimentos pré-moldado com capacidade para aproximadamente 70 vagas para veículos, próprio para o Centro de Ribeirão.

É fundamental uma boa integração com os edifícios ao redor.

Disposição de vagas

Exemplo de remoção de vagas na avenida Saudade

Desafios e soluções:

  • Custo elevado de construção: Mitigado com tecnologias pré-fabricadas ou parcerias público-privadas.

  • Resistência social: Superada com um design atrativo e a comunicação dos benefícios, como a redução do tráfego local.

  • Adaptação futura: Projetos flexíveis que possam ser convertidos para outros usos, caso a demanda por estacionamento diminua no futuro (ex.: conversão para escritórios ou moradias).


Conclusão

Edifícios-garagens bem implementados podem contribuir significativamente para a mobilidade urbana e a organização do espaço público, especialmente em cidades onde o crescimento populacional pressiona a infraestrutura. O objetivo não é "eliminar o automóvel" das cidades, mas sim permitir uma melhor convivência entre os modais com medidas que sejam benéficas para todos.

Em Ribeirão Preto se forem bem planejados podem ajudar na redução dos conflitos causados pela remoção de vagas na vias públicas, principalmente na região do centro e hiper-centro, dando espaço para o transporte ativo e coletivo sem prejudicar aqueles que necessitam utilizar o automóvel no dia a dia.

Obrigado pela audiência e nos vemos na próxima publicação.



Comentários

  1. Eu adoraria ver os grandes estacionamentos do centro adotando esta prática, pois aquele enorme espaço que eles ocupam seria muito melhor aproveitado, e, se tanto os donos quanto a prefeitura pensassem um pouco, eles poderiam utilizar os edifícios para outras coisas, como captação de águas pluviais e também instalação de painéis solares na estrutura, já que a insolação aqui é alta.

    Enfim, com os preços cobrados atualmente e a demanda pelo serviço, especialmente no centro e em épocas festivas, acho que o retorno não deve demorar, mas achei sua ideia de mesclar com zona azul muito interessante.
    Se a prefeitura aproveitasse os vários imóveis abandonados do centro para fazer isso, acho que todos sairiam ganhando.

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