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Abastecimento de Ribeirão Preto - Águas do Rio Pardo e outras ideias

A água é um recurso essencial para a vida na Terra. Por isso todos devem estar conscientes sobre seu uso responsável e alternativas para que ele possa durar para as futuras gerações.

Apesar do planeta ser coberto por 70% de água, apenas 2,5% dela é do tipo doce, ou seja, considerada própria para o consumo e está distribuída na forma de geleiras, aquíferos subterrâneos, lagos, rios e até mesmo na atmosfera. Sua utilização na sociedade é bastante abrangente indo desde o consumo humano, urbano e industrial, até seu uso nas áreas de agricultura, produção de energia e recreação.

Saiba mais: Listamos os 7 principais usos da água

Existem duas formas de interação do sistema de água no meio urbano. São elas:

  • Abastecimento de água potável (captação, tratamento, transporte e distribuição);
  • Saneamento de águas residuais (coleta, transporte, tratamento e descarga).
Ainda sobre o sistema de captação, ele se subdivide em dois grupos, sendo eles:
  • Águas superficiais (rios, lagos e represas);
  • Águas subterrâneas (aquíferos e lenços freáticos).
Destes dois sistemas de captação, o superficial precisa passar antes por uma estação de tratamento de água onde ela será devidamente tratada e somente depois ser distribuída na rede de abastecimento urbana. Já as águas captadas por aquíferos não costumam passar por este tipo de tratamento pois esta já possui uma qualidade superior as captadas na superfície.

As estações de tratamento são importantes pois elas utilizam de processos químicos e físicos para que a água possa estar apta para consumo. Um sistema padrão consiste em captação, tratamento, reservatórios e redes de distribuição, conforme a ilustração abaixo:

Etapas de um Sistema de Abastecimento de água
Via ResearchGate


Abastecimento de água em Ribeirão Preto

A autarquia foi criada em 1969 com o resultado de um desmembrado dos departamentos de esgoto e telefonia (Daet) e assim sendo nomeada como Daerp - Departamento de Águas e Esgotos de Ribeirão Preto. Em 2022 a instituição deixou de ser uma autarquia e passou a ser uma secretaria de governo, assim rebatizada para Saerp - Secretaria de Água e Esgoto de Ribeirão Preto.

Atualmente a secretaria é responsável tanto pela captação de água do aquífero Guarani por meio de poços artesianos, quanto pelo tratamento das águas residuais através das ETEs Ribeirão Preto e Caiçara.

Antiga sede do Saerp
Via G1 Ribeirão e Franca

Desta forma, assim como as cidades de Sertãozinho e Matão (SP), capitais como Natal-RN, Maceió-AL e Região Metropolitana de Recife-PR, Ribeirão Preto é uma das poucas cidades brasileiras que são abastecidas 100% pelas águas vindas do aquífero Guarani, considerada uma das mais importantes reservas subterrâneas do mundo. 

Contudo, a cidade tem passado por problemas constantes de falta de abastecimento em diversos bairros ao longo da história e com a recente onda de calor que atingiu o estado de São Paulo nos últimos dias, grande parte do fornecimento foi ainda mais prejudicado devido ao aumento do consumo a ponto de seções de hemodialise serem prejudicadas em um hospital da zona sul de Ribeirão.

Os problemas de abastecimento são corriqueiros em Ribeirão.
Via: Jornal da EPTV
Atualmente o sistema de abastecimento de água de Ribeirão Preto consiste na captação por poços artesianos, sendo direcionadas para os reservatórios e assim seguindo pela rede até os imóveis da cidade. No entanto alguns problemas tem feito com que a cadeia de distribuição seja prejudicada de forma constante, resultando em bairros cujo o fornecimento de água acaba sendo interrompido durante o dia e retornando apenas no final da noite.

Entre os problemas podemos listar:
  • Reservatórios insuficientes: em muitos bairros a distribuição acontece de forma direta entre os poços artesianos e as residências, fazendo com que as bombas funcionem 24 horas por dia; o que acaba resultando em quebras causadas por seu uso intensivo. Com a quebra, grandes bairros e regiões da cidade acabam ficando sem água de forma instantânea, pois não existem reservatórios para atender a demanda emergencial;
  • Rede antiga ou subdimensionada: com a falta de reservatórios, a água é jogada direto na rede com muita pressão, que muitas vezes não recebe manutenção preventiva adequada, resultando em vazamentos que podem ser tanto subterrâneos quanto direto na superfície, causando a paralisação do sistema;
  • Falta de manutenção: muitas vezes os vazamentos podem permanecer por dias e até mesmo semanas sem que seja resolvido. Ou seja, a falta de manutenção preventiva na rede tem contribuído para que a interrupção do fornecimento aconteça de forma constante;
  • Desperdício: infelizmente nem todas as pessoas possuem consciência sobre a importância da água em nossas vidas. Por isso é comum que muitos a utilizem de forma irresponsável ou que ignorem vazamentos em suas residências, o que acaba prejudicando os demais imóveis;
  • Ligações clandestinas: assim como existem "gatos" de luz, é comum que os "gatos de água" existam em diversas regiões da cidade. A falta de fiscalização contribui para que estas ligações irregulares aumentem principalmente nos períodos de alta temperatura, onde o consumo costuma ser maior;
  • Alto consumo: sim, infelizmente isso também pode ser um fator motivador de problemas para a falta de água. Em períodos mais quentes do ano é natural que o consumo fique elevado, contudo caso este período se estenda por muitas semanas, isso pode trazer problemas na rede de captação que não consegue atender a demanda solicitada.

Ideia utópica de hoje

O abastecimento de água no perímetro urbano é um assunto bastante complexo e possui diversos pontos a serem considerados. Portanto na proposta desta semana tentaremos apontar ideias e soluções de forma mais clara, realista e objetiva que permitam cobranças e discussões junto aos órgãos competentes. Seguem algumas delas:

Em relação a falta de água (curto e médio prazo):
  • Manutenção preventiva contante: trata-se de manutenções programadas a fim de evitar que elas vejam a se tornar manutenções corretivas (emergenciais). Isso reduz o risco de interrupções surpresa na rede, reduz os custos de operação e alivia as demandas emergenciais de reparos;
  • Intensificar o monitoramento de vazamentos: os serviços de geofonagem permitem com que sejam descobertos vazamentos que não sejam visíveis na superfície, evitando aberturas desnecessárias nas vias. Reduzindo os vazamentos, o número de interrupções no abastecimento também serão reduzidor. Inclusive o SGV - Sistema de Gerenciamento de Pavimentos citado em uma proposta de 2017 previa este tipo de monitoramento e manutenção;
  • Programas de conscientização: nunca é demais alertar as pessoas sobre a importância de utilizar a água de forma responsável. Campanhas que foquem na preservação deste importante recurso hídrico são fundamentais para que este importante hábito seja implementado desde cedo em crianças e adolescentes.
  • Maior fiscalização contra os "gatos de água": a falta de punição aqueles que realizam tais ligações clandestinas acaba incentivando que mais pessoas se aventurem a cometer esta infração. Por isso é fundamental que as equipes de fiscalização estejam constantemente verificando os imóveis que estejam devidamente regularizados e punir aqueles que insistirem nas ligações irregulares;
  • Construção de novos reservatórios: isso permite com que o sistema passe a operar 100% por gravidade, ou seja, sem a necessidade constante no uso das bombas de captação, permitindo que as mesmas possam receber reparos regulares sem prejudicar o fornecimento de água a população. Uma das soluções mais importantes para a situação atual;
  • Projetos de captação de águas pluviais: a água da chuva não é considerada própria para o consumo, mas pode ser utilizada para outros fins como descargas, lavagem de pátios e sistema de irrigação. A instalação de cisternas de médio e grande porte pode ser realizada tanto em residências quanto em industrias, comércio ou prédios públicos, assim destinando a água potável apenas para consumo humano. Vale lembrar que esta ideia foi citada em proposta publicada em 2016 aqui no blog;

Para a preservação e recarga do aquífero (curto e médio prazo):
  • Aumento das áreas permeáveis: por ser uma cidade que depende 100% do aquífero Guarani, é muito importante que existam áreas onde a água das chuvas possa se infiltrar até chegar no subsolo. Alem de garantir a recarga do aquífero, tal projeto ajudaria a reduzir os riscos de enchentes e alagamentos em Ribeirão;
  • Bolsões de água e cacimbas: são escavações artificiais de médio e grande porte que retem grande parte da água vinda proveniente das chuvas que vai sendo absorvida aos poucos pelo solo. As cacimbas podem ser construídas em áreas menores como canteiros, desníveis e áreas verdes, enquanto os bolsões de água são destinados para áreas menos populosas ajudando a reter parte da água que antes chegaria na área urbana;
  • Controle de novas construções na área de recarga: a Lagoa do Saibro fica localizada na zona leste de Ribeirão e consiste em uma das principais áreas de recarga do aquífero. Desta forma a aprovação de novas construções nesta região deve ser mais rigoroso, principalmente para edifícios de apartamento e condomínios. O adensamento arbóreo precisa ser prioritário e com o mínimo de áreas impermeáveis possível.
Lagoa do Saibro, área de recarga do aquífero Guarani
Via: Canal Terra, Céu e Drone (YouTube)



A utilização do Rio Pardo como fonte de abastecimento

Apesar das ideias propostas serem bastante positivas para a redução ou mesmo a eliminação do problema da falta de água em Ribeirão Preto, ainda continuamos dependendo exclusivamente do aquífero Guarani, o que pode representar um risco de abastecimento em um futuro não muito distante. O aumento no número de construções na área de recarga, a falta de planejamento na construção de aterros e a produção agrícola e industrial sendo realizadas de forma não sustentável podem comprometer a utilização destes reservatórios subterrâneos de água.


Tendo em vista os mapas do estudo, não apenas Ribeirão faz uso do aquífero como também várias cidades da região metropolitana também o fazem. Isso mostra o quanto é importante a preservação desta região, como também a busca por uma alternativa secundaria de abastecimento. E neste hora surge a possibilidade da utilização do Rio Pardo como uma forma de complementar o sistema de abastecimento de água de Ribeirão Preto.

Rio Pardo
Via Revide
O Rio Pardo possui 573 km de extensão, tendo sua nascente próxima ao município de Ipuiúna (sul de Minas Gerais) e seguindo até desembocar no Rio Grande, passando por várias cidades do norte do estado de São Paulo. Seu leito tem utilização principalmente na geração de energia hidroelétrica e ganha volume ao se aproximar da cidade de Pontal-SP.

Para que a publicação não fique extensa e cansativa, seguem alguns links mais direcionados sobre o tema:
Trata-se de um projeto de grande porte que exigirá inicialmente vários estudos para avaliar a possibilidade do rio em poder ter sua água captada para o consumo humano. Isso inclui a viabilidade para a construção da estação de tratamento e toda a rede a ela destinada, que atuaria de forma mista com o sistema atual, podendo funcionar em conjunto ou de maneira parcial de acordo com o período e necessidade.

Mais do que isso, a captação de água do rio Pardo traria benefícios também para as demais cidades da região metropolitana (talvez um consórcio com as cidades envolvidas), alem de servir como o início para a revitalização completa da região do rio Pardo, que aos poucos vem sofrendo com casos de poluição.


Nota RT: Infelizmente o debate sobre o assunto foi enterrado nas eleições de 2016 onde um dos candidatos que disputavam o pleito na época teria demonizado a ideia, utilizando até mesmo em propaganda eleitoral no rádio e televisão que o objetivo da estação de tratamento seria "dar água do aquífero para os ricos, enquanto a água do rio Pardo seria destinada aos pobres", em uma manobra populista que comprometeu totalmente a viabilidade da proposta nos anos seguintes.

Com a proximidade das eleições de 2024, esperamos que o mesmo futuro candidato não se utilize desta tática tão mesquinha e baixa cujo os únicos prejudicados seriam a população que sofre diariamente com a falta de água constante.

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Como pudemos ver, o problema a respeito da falta d'água em Ribeirão Preto não seria resolvido apenas "consertando todos os vazamentos", pois existem questões mais complexas que precisam ser debatidas e colocadas em pratica. Mais do que isso, já estamos vivenciando o problema em regiões que antes nunca tiveram desabastecimento e assim a busca por soluções eficientes fica cada vez mais corrida e apertada.

Esta discussão precisa ser colocada em prioridade enquanto ainda temos espaço para soluções menos drásticas como possíveis rodízios que já costumam acontecer em cidades como São Paulo. Nos próximos anos atingiremos a marca de 1 milhão de habitantes e não podemos esperar o futuro chegar para somente depois pensarmos em soluções.

Novamente Ribeirão Preto tem a faca e o queijo na mão para decidir a melhor forma de resolver o problema. Cobre e questione seu vereador, assim como a própria prefeitura e futuros candidatos que irão disputar as eleições de 2024. Não aceite respostas vazias e genéricas, exija soluções práticas e realistas.

Se você gostou da publicação, ajude a compartilha-la. Somente assim mais pessoas terão conhecimento do problema e começarão a se interessar em resolve-los. Desde já obrigado pela audiência e até a próxima.

Links para referência e pesquisa

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