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Revitalização comercial da avenida Dom Pedro I

Novamente voltamos a falar sobre a avenida Dom Pedro I, uma das principais vias de acesso entre os Campos Elíseos e grande parte das regiões norte e oeste.

Em meados de 2012, quando os projetos dos corredores estruturais de transporte coletivo do PAC da Mobilidade (atual Ribeirão Mobilidade) começaram a ser divulgados, a avenida foi incluída para fazer parte do corredor Leste/Oeste 1 ligando a estação Oeste (entrada do bairro José Sampaio) até o Novo Shopping, zona leste de Ribeirão Preto.

As obras incluíam a implementação das faixas exclusivas para ônibus (uma por sentido), recuperação do pavimento asfáltico, novos abrigos para os pontos de embarque, novas rampas para acessibilidade, entre outros detalhes técnicos. No primeiro semestre de abril de 2021 foi rompido o contrato com a empresa responsável pelas obras do corredor por conta de atrasos constantes e assim a região permaneceu sem intervenções por aproximadamente um ano, até que uma nova licitação fosse realizada e assim os trabalhos fossem concluídos.

Em outubro de 2022 o corredor Dom Pedro foi finalizado e assim a avenida passou a contar com as novas faixas exclusivas para ônibus em período integral, alem da criação da nova linha estrutural 903 - Oeste 2 (inserida no lugar da antiga 808 - Jardim Cristo Redentor) com maior frequencia de horários.


Foto: g1 Ribeirão Preto e Franca

Foto: Arquivo

Print: g1 Ribeirão Preto e Franca

Porem ao contrário dos demais corredores implementados, o corredor Dom Pedro enfrentou uma maior resistência por parte dos comerciantes (até mesmo com protestos) por conta da remoção de vagas de estacionamento livres que existiam ao longo da via. Como as faixas exclusivas exigiam no mínimo 3,5 metros de largura para serem implementadas, foi visto que seria impossível manter as vagas de estacionamento. Sendo assim, o projeto foi pensado para que a avenida passasse a ter duas faixas em cada sentido, sendo uma para os ônibus e outra para os demais veículos.

Por um curto período de tempo a Dom Pedro teve a implementação das vagas rotativas de Área Azul (ainda no antigo sistema de registro por talões de papel), como uma forma de preparar os condutores sobre as futuras mudanças em relação as vagas na avenida.

Com o tempo a RP Mobi (antiga Transerp) realizou mudanças em relação a exclusividade da faixa, mantendo-a apenas nos horários de pico da manhã e final de tarde (das 6 as 9 horas e das 16 as 19 horas), alem de sua liberação total nos domingos e feriados. Desta forma, qualquer veículo poderia utilizar a faixa de ônibus fora dos horários exclusivos para transitar, porem mantida a proibição de estacionamento. Alguns meses antes da liberação total do corredor, o estacionamento foi liberado nos horários de vale (fora do pico) porem com alertas constantes de que isso seria apenas em caráter provisório.

Infelizmente a mudança ainda não deixou os comerciantes satisfeitos, pois muitos alegam que a remoção das vagas estaria prejudicando diretamente o comércio local. Como alternativa, a RP Mobi implementou o sistema de Área Azul Digital nas ruas perpendiculares entre as paralelas Maranhão e André Rebouças, mas no entanto os comerciantes ainda não estavam satisfeitos com as novas mudanças, e o resultado foi o fechamento de vários comércios ao longo da avenida e adaptação daqueles que ainda possuíam negócios na Dom Pedro para a nova realidade. E o assunto voltou a tona após uma pesquisa divulgada recentemente onde os comerciantes alegam que as vendas caíram 45% após a remoção das vagas na via.

Neste período alguns se mudaram para locais próximos da avenida e até mesmo novos negócios surgiram como a chegada do Open Mall Dom Pedro, redes dos fast foods McDonald's, Burger King e Pizza Hut, alem de outras franquias igualmente conhecidas e inéditas na região do bairro Ipiranga.

Foto: prefeitura de Ribeirão Preto

Foto: Clube FM

Foto: ABMalls - Associação Brasileira de Strip Malls

O fim das vagas de estacionamento

Em setembro de 2023 publicamos um artigo citando a questão das vagas de estacionamento livres e sua provável extinção nas avenidas nos próximos anos. Por conta do aumento da frota de veículos circulantes na cidade, manter tais vagas pode ser bastante custoso em relação a mobilidade urbana, pois no lugar onde estes veículos hoje estacionam poderia ser implementada uma nova faixa para ônibus, uma nova ciclofaixa, extensão da calçada ou mesmo uma nova faixa de rolamento para os demais veículos.

Infelizmente a remoção das vagas é o preço que pagamos pelo uso massivo do automóvel em nosso dia a dia. Não existem milagres técnicos (ou mesmo físicos) que permitam que um grande fluxo de pessoas e veículos possam coexistir com carros estacionados junto ao meio fio (pelo menos nas avenidas comerciais).

Voltando ao caso da Dom Pedro I, existem alguns motivos que, na opinião do blog, impedem o retorno destas vagas livres, entre eles:

  • Perda da prioridade do transporte coletivo: com a volta das vagas, os ônibus voltariam a disputar com os demais veículos pelo curto espaço restante na via, fazendo-os perder rapidez e, posteriormente, aumentar o tempo de viagem prejudicando os passageiros;
  • Riscos de acidentes: em uma avenida onde muitos condutores insistem em desrespeitar os limites de velocidade, não é nada seguro mantermos vagas de estacionamento livres pois os riscos de colisões e atropelamentos seriam constantes, mesmo que fossem adotados radares ou lombadas eletrônicas ao longo da avenida;
  • Uso irregular das vagas: infelizmente nem todos utilizam as vagas de forma responsável e pensando no coletivo. Antes da implementação da Área Azul em 2017 era comum veículos parados na avenida por longos períodos de tempo, muitos deles sendo dos próprios funcionários e comerciantes da Dom Pedro I. Desta forma, os clientes raramente conseguiam estacionar na avenida e acabavam optando pelas ruas paralelas;
  • Imóveis com guias rebaixadas: com o passar dos anos foram surgindo comércios na avenida com recuos frontais que serviam como local para os clientes estacionarem. Desta forma, fica praticamente impossível estacionar junto ao meio fio rebaixado justamente por conta destes recuos. Isso reduziria significativamente o número de vagas livres na avenida, o que não seria vantajoso em relação a quantidade de veículos passantes que seriam prejudicados.
Ônibus do transporte coletivo ocupando duas faixas (2011)

Revenda de motos utilizando as vagas como extensão da loja (2012)

Guias rebaixadas e recuo em grandes extensões (2017)

A implementação das faixas exclusivas permitiram que os ônibus pudessem cruzar a região de forma mais rápida e ágil, levando menos tempo do que o cenário anterior com as vagas de estacionamento e faixas de rolamento estreitas. Porem o comércio da Dom Pedro não se readequou de forma igualmente rápida as mudanças e assim muitos tem tido prejuízos que poderiam ter sido evitados antes mesmo do início das obras.

E assim entramos na proposta de hoje.

Ideia utópica de hoje

As sugestões apontadas aqui devem ser discutidas com os principais interessados, que no caso seriam os comerciantes que buscam por uma solução para o problema. Entidades como a ACIRP  (Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto), SINCOVARP (Sindicato do Comércio Varejista de Ribeirão Preto) e a própria prefeitura de Ribeirão Preto são presenças essenciais para auxílio técnico e jurídico que forem necessários.

A principal mudança seria em relação ao perfil comercial da avenida, justamente por ser considerada uma via arterial importante da zona oeste acessada até mesmo por moradores de bairros vizinhos, e desta forma o adensamento da Dom Pedro I precisaria ser repensado, discutido e implementado. Sendo assim, os comércios e serviços de pequeno porte poderiam ir para as ruas perpendiculares (Pará, Bahia, Espírito Santo, Piauí, Bonfim General Câmara, Tapajós e Japurá) enquanto os de médio e grande porte se consolidariam na avenida, todos adaptados com recuos frontais ou áreas de estacionamento.

Com isso, as ruas do entorno teriam a consolidação do comércio local de pequeno porte como lojas de roupas, perfumarias, empórios, salões de beleza, entre outros serviços. Já a avenida passaria a contar com o comércio de alta demanda como restaurantes, supermercados, lojas do setor varejista, clinicas e demais negócios de redes nacionalmente conhecidas.

O adensamento também poderia abranger a construção de novos apartamentos residenciais, desde que estes fossem do tipo fachada ativa sem estacionamento. Com isso as faixas de ônibus teriam um aumento no número de passageiros e assim uma melhor eficiência do sistema de transporte coletivo.

Sugestão de novo perfil comercial da Dom Pedro I

Exemplo de imóveis adequados para as ruas perpendiculares

Exemplo de imóveis para a Dom Pedro I 

Exemplos de apartamentos sem garagem com fachada ativa


Exemplos de mobiliário urbano e paisagístico

Isso exigiria uma mudança total de mentalidade em relação sobre qual o tipo de negócio mais adequado à avenida Dom Pedro I, o que interferiria até mesmo no mercado imobiliário da região. Infelizmente muitos proprietários se recusam a vender seus imóveis aguardando sua valorização, mesmo que signifique ter um prédio fechado e vandalizado sem uso. Por isso a criação de campanhas para o comércio local em períodos do ano (feriados como natal, dia das mães, Black Friday, entre outros) também são importantes para estimular que os clientes comprem e visitem a avenida.

Ainda sobre mudanças importantes, podemos citar uma possível revitalização em relação a paisagem local da avenida. Hoje as calçadas não são um ambiente agravável ao pedestre, que muitas vezes pode ser fator de desistência em comprar na Dom Pedro I. Mobiliário urbano como bancos, lixeiras e árvores próprias para calçadas trariam uma melhoria significativa para quem utiliza a região. Alem disso a renovação das fachadas e melhora na iluminação também são fatores que trariam benefícios.

Outra ideia a ser considerada seria em relação a praça Pedro Biagi (em frente a escola Prof. Alfeu Luiz Gasparini) que poderia ter a implementação de vagas dispostas à 45º em relação a via, o que poderia resolver parcialmente o problema da falta de vagas naquela região, alem de ser o start ideal para uma tão aguardada revitalização da praça Biagi. Como já citamos em uma proposta específica em 2016, manter estes locais de convivência em bom estado de conservação é muito importante para os bairros e moradores.

E por fim, como alternativas para médio o longo prazo, a implementação do sistema trinário e a duplicação da avenida Rio Pardo ajudariam a direcionar parte do tráfego de passagem entre as regiões do Ipiranga, mantendo a Dom Pedro I focada unicamente no comércio existente.

Conclusão

Ainda é comum encontrarmos comerciantes culpando a presença da faixa exclusiva como única e principal responsável pela saída de lojas da Dom Pedro I. O fato é que a avenida vinha passando por um processo de esvaziamento desde o período da pandemia de Covid-19 que impactou diretamente o setor de comércio e serviços.

Alem disso a Dom Pedro nunca foi um ambiente agradável para os clientes a pé por conta da total ausência de mobiliário urbano como bancos e lixeiras, tudo isso aliado ao zero número de árvores ao longo da avenida. Também tempos o fator conformismo, onde muitos comerciantes mantem suas fachadas e planos de negócios inalterados desde os anos 70, o que também contribui para o afastamento de clientes. Ou seja, apenas o retorno das vagas não seria uma garantia de que o comércio voltasse ao que era antes.

Por isso a proposta de hoje tenta jogar uma luz sobre o tema de forma realista para que assim no curto e longo prazo possamos resolver o problema de esvaziamento da avenida Dom Pedro, transformando-a novamente em uma avenida comercial e atrativa para todos.

Obrigado pela audiência e até a próxima!

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