terça-feira, 26 de setembro de 2023

As vagas de estacionamento gratuitas estão com os dias contados?

As vagas de estacionamento gratuitas são as áreas localizadas entre a sarjeta e faixa de rolamento, destinada para embarque e desembarque de passageiros, paradas emergenciais, carga e descarga e paradas mais prolongadas (estacionamento). Quando um novo loteamento é planejado e construído, a via costuma ter largura suficiente para as faixas de rolamento e a área destinada ao estacionamento.

Vagas de estacionamento gratuitas na Nove de Julho
Via: Google Street View

Como vantagens podemos destacar a comodidade e praticidade, pois por estarem disponíveis junto ao meio fio, qualquer condutor pode utiliza-las sem quaisquer tipos de restrições (exceto em situações onde existam placas indicando que determinada vaga seja destinada para públicos específicos através da sinalização R-6b - Estacionamento regulamentado).

Entre as desvantagens estão a piora na fluidez do trânsito provocada por motoristas que buscam por uma vaga livre, aumento no consumo de combustível por conta deste rodar excessivo na procura pela vaga, piora na qualidade do ar naquela região (principalmente onde não existe árvores ou espaço para o vento circular), estimula o surgimento de guardadores de carro (flanelinhas) e em situações mais extremas, o abandono de veículos na via, que podem reduzir ainda mais o número de vagas livres disponíveis, alem de servir como criadouro de água parada para o mosquito da dengue, abrigo para moradores de rua e esconderijo para bandidos.

Segundo o criador do artigo "Eliminação de Vagas de Estacionamento Gratuito | Guia de Gestão Urbana" (Caos Plajenado), Marcos Paulo Schlickmann, sua definição é que melhor se encaixa em relação a estas vagas a disposição, citada abaixo:

“Vagas gratuitas acabam por ser usadas por quem chega cedo, deixando o carro o dia todo no local e ocupando uma vaga importantíssima para outras pessoas.” 

Ou seja, podemos definir que alem das vagas livres serem ocupadas por clientes e moradores da região, estas também acabam sendo ocupadas por funcionários e comerciantes que trabalham nestas áreas predominantemente comerciais. Cabe aqui um esclarecimento: não existe problema algum de uma pessoa utilizar o carro para ir e chegar até seu local de trabalho, porem ela deve estar ciente de que encontrar vaga em uma região cuja oferta é muito mais alta que a demanda pode acabar prejudicando principalmente aqueles que se utilizam dos comércios e serviços daquela região. Em outras palavras, prejudica diretamente o cliente.

Observação: neste artigo estaremos focando nas vagas de avenidas de cunho majoritariamente comerciais, principalmente daquelas próximas dos grandes centros. As avenidas que costumam ficar em bairros mais residenciais costumam ter seu uso local e não prejudicam diretamente o trânsito da região por onde passam.

Em bairros predominantemente industriais, que por uma questão de logística ficam localizados em áreas mais afastadas dos grandes centros e próximas de rodovias, é comum fábricas e CDs industrias terem uma área de estacionamento disponível para funcionários; principalmente por estas regiões não terem uma oferta alta de transporte coletivo e por ficarem longe das demais regiões residenciais.


Motivos para uso do veículo particular

Isso nos leva para os principais motivos que levam a pessoa a utilizar transporte individual (carro ou motocicleta) para irem e voltar do trabalho. Entre eles tempos a má qualidade do sistema de transporte coletivo (principalmente em relação a demanda e horários), falta de alternativas viáveis e seguras para deslocamento para o transporte não motorizado (ciclovias e ciclofaixas) e a longa distância entre a residência e o local de trabalho, obrigando o trabalhador a ter que utilizar um transporte individual motorizado, seja ele automóvel ou motocicleta.

Alias é fato que muitos dos atuais condutores de motocicletas acabaram adotando o modal depois de anos de uso do transporte coletivo por ônibus de má qualidade, e, uma vez que o mesmo não consiga mais oferecer agilidade, rapidez e conforto adequados para suas viagens diárias, estes antigos passageiros até fazem um esforço financeiro para a compra de um veículo usado que atenda suas necessidades de deslocamento.

Porem muitas vezes estas vagas livres gratuitas acabam sendo utilizadas de forma irregular, o que acaba reduzindo ainda mais a oferta de vagas disponíveis. Uma das mais utilizadas é a reserva de vagas para clientes ou carga e descarga com o auxílio de cones, cadeiras, caixotes ou quaisquer objeto de médio porte. A extensão da calçada para venda de produtos também costuma ser bastante utilizada, alem da transformação da vaga em "estacionamento particular”, muitas vezes feita por moradores que residam nestas regiões.


Conversão das antigas vagas

Quanto a transformação da vaga de estacionamento gratuita, ela pode ter quatro finalidades diferentes, conforme o uso da via. Entre elas destacamos a implementação de uma faixa de rolamento para o tráfego, em uma alternativa de reduzir os pontos de congestionamento na via. Caso a avenida tenha um alto fluxo de ônibus do transporte coletivo, a implementação de uma faixa exclusiva também poderá ser cogitada. Para o transporte ativo, a conversão da antiga área destinada para estacionamento em ciclofaixas ou extensão de calçadas também pode ser adotada pelo departamento de trânsito.

No mais, a realidade é que o espaço nas cidades brasileiras é bastante escasso, o que acaba nos levando a uma conclusão de que a remoção das vagas de estacionamento gratuitas é o preço que pagamos pelo uso excessivo do automóvel em nosso dia-a-dia. Os exemplos citados anteriormente nos mostram isso claramente.


Ideias e sugestões

A adaptação a nova realidade nestes centros urbanos será fundamental para que as atividades comerciais são sejam prejudicadas, pois não são todos os imóveis que possuem uma área destinada para o estacionamento de clientes. Seguem algumas sugestões a serem discutidas:

  1. Construção de bolsões de estacionamento e edifícios garagem;
  2. Ampliar o número de vagas rotativas (Área Azul Digital);
  3. Definição da Zona Marrom (carga e descarga);
  4. Melhorar a qualidade do transporte coletivo (frequência de horários, faixas exclusivas, estações de integração);
  5. Investimentos em uma infraestrutura cicloviária integrada aos principais polos geradores de tráfego e bairros residenciais;
  6. Estimular o comércio e pequenas industrias nos bairros (amentar a oferta de empregos).

Conclusão

O estacionamento gratuito nas ruas não é direito, e sim um privilégio. A rua sempre será pública e deverá ser livre priorizando a mobilidade urbana ao inves da presença estática de veículos.

As vagas gratuitas continuarão existindo, porem em áreas comerciais elas se tornarão cada vez mais raras, principalmente em avenidas. Infelizmente o pagamento de estacionamento (seja rotativo ou particular) se tornará um mal necessário nestas regiões, portanto precisamos repensar nossa forma de locomoção pela cidade, assim como o zoneamento de áreas comerciais, residenciais, industriais e públicas.

E você o que acha sobre o assunto? Deixe sua opinião aqui nos comentários ou em nossas redes sociais.


Links para pesquisa