terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Construção de Espaço Multiuso

Atualização: 25/02/2024

Moradia e trabalho; tecnicamente estas seriam as duas principais funções de uma cidade. As pessoas exercerem algum tipo de função remunerada e precisam de um local para descansarem e viverem durante seus períodos de folga. Todos nós sabemos que uma cidade assim seria algo puramente burocrático, mecânico e metódico. Por isso é necessário que sejam criadas "distrações" para que a convivência no ambiente urbano não permaneça apenas no "casa - trabalho - casa".

Opções de lazer são necessárias pois contribuem para uma melhor qualidade de vida e podem ser extremamente variadas dependendo de vários fatores como preço, distância, público alvo, tipo de evento oferecido, entre outros. Quanto maior a cidade, maior o leque de alternativas para o cidadão:

  • Parques públicos urbanos;
  • Clubes recreativos;
  • Shoppings Centers;
  • Bosques ou zoológicos;
  • Hotéis fazenda;
  • Estâncias turísticas;
  • Parques aquáticos.
Jardim Botânico em Curitiba - PR
Via: Blog Temporada Livre

Parque Villa Lobos em São Paulo
Via: Mídia Paulistana

Pista de patinação no Boulevard Shopping BH
Foto via: Apontador


Repare que existem opções de entretenimento tanto no setor público quanto no privado, alem de serem ambientes específicos para cada evento (em um zoológico a pessoa encontrará atividades em contato com animais e o meio ambiente; em um parque aquático a pessoa terá atividades que envolvam diversão na água, e assim por diante).

Mas do ponto de vista econômico talvez não seja vantajoso manter um espaço específico para cada atividade, sobretudo se forem atividades pontuais. Por isso tem se tornado comum ao redor do mundo a construção dos chamados espaços multiuso.


Espaço Multiuso - conceito

Observação: normalmente é mais comum encontrarmos o termo "arena multiuso" ao inves de "espaço multiuso". Uma arena acaba se referindo a uma estrutura grande e fechada preparada para recebimento apenas de eventos esportivos como futebol, basquete, vôlei, etc. Estarei focando no conceito de "espaço multiuso" para que mais eventos sejam aproveitados e não restritos apenas para esporte.

Um espaço multiuso é uma instalação de diferentes portes que permite a realização de diversos eventos, sejam únicos ou simultâneos. Algumas das atividades possíveis são:
  • Desfiles (escolas de samba, fanfarras, dia da independência, etc);
  • Exposições (veículos antigos, obras de arte, trabalhos de escolas, etc);
  • Shows (musicais, religiosos, culturais, etc);
  • Convenções (comerciais, locais, culturais, etc);
  • Apresentações esportivas (campeonatos de basquete e futebol amador, competições automotivas, competições locais, etc);

Arena em Sorocaba - SP
Foto via: Jornal Cruzeiro do Sul

Espaço Anhembi em São Paulo
Via: Anhembi.com

Sambódromo da Sapucaí no Rio de Janeiro
Via: Portal Giro

Saiba mais: Arenas Multi-usos (em PDF)

O conceito de arena é bastante antigo, vindo desde a época do império romano, onde ela é definida como um local fechado e circular utilizado para eventos esportivos diversos. É comum algumas pessoas confundirem o termo arena com estádio (onde normalmente são realizadas partidas de futebol), sendo este último um local de cobertura aberta.

Os espaços multiuso surgiram nos Estados Unidos como uma forma de reduzir a violência existente em estádios e ginásios na época. Assim aos poucos os espaços começaram a ser frequentados por diversas pessoas e se transformando em grandes pontos de convivência.

A principal característica de um espaço multiuso é sua versatilidade. Uma vez bem planejado, o local pode abrigar os mais diversos eventos de pequeno e médio porte, com toda a infraestrutura necessária para seu funcionamento. Podem ser administrados pela prefeitura ou, de preferência, por uma empresa privada especializada neste tipo de ambiente por meio de uma PPP (Parceria público-privada). Entre as vantagens de um espaço multiuso são:
  • Podem incluir a cidade em grandes eventos regionais, estaduais ou nacionais;
  • Atraem novos investimentos em hotéis, restaurantes, comércios, etc;
  • Incentivam o turismo na cidade;
  • Movimentam a economia da cidade;
  • Tornam-se importantes instrumentos de lazer para seus moradores;
  • Criação de empregos de forma direta ou indireta;
  • Usado como alternativa para acomodar pessoas em situações de desastres naturais.
Uma vez construído em um localização privilegiada de avenidas e transporte público, os espaços multiuso podem atrair pessoas de todas as partes da cidade e até mesmo da região. Mas para que isso aconteça, alem de toda estrutura necessária, prefeitura e empresas devem investir pesadamente no marketing do espaço. Isso ajudará a atrair empresas dispostas a investirem no local e pessoas que se afastaram desdes locais por conta da falta de segurança e ausência de conforto.

Algumas cidades como Sorocaba e Londrina tem investido neste tipo de estrutura, entretanto o que mais se tem visto são apenas projetos de arenas na forma de maquetes ou fotos e sem quaisquer datas para construção e inauguração. Trata-se de um empreendimento que requer muita responsabilidade para ser concebido e mantido. Do contrário corre sérios riscos de se tornar um grande elefante branco para a administração municipal.


Sambódromo de Batatais

O sambódromo Carlos Henrique Cândido Alves foi inaugurado em 2005 e fica localizado no Parque de Exposições Antônio Carlos Prado Batista na cidade de Batatais. Ele é o exemplo mais próximo de espaço arena multiuso na região metropolitana de Ribeirão. Nos últimos anos a cidade era bastante conhecida pela qualidade de seus desfiles de escola de samba, que é realizado em uma via de concreto existente dentro do sambódromo de aproximadamente 350 metros de extensão, margeada de arquibancadas e com toda a infraestrutura necessária para a realização do evento.

Infelizmente devido a falta de recursos e impedimentos legais, este será o segundo ano seguido que a cidade não sediará seu desfile de carnaval.

O terreno de aproximadamente 1170 m² fica paralelo a
rodovia Altino Arantes e da avenida Moacir Dias de Morais
Passarela do Samba em Batatais - SP
Via: Batatais 24h
Desfile de escolas de samba em Batatais - SP
Foto via: G1.com
Evento automobilístico (prova de Arrancada)
na Arena do Samba em Batatais.
Via: Nossa Noite 


Atualização 02/2024: os desfiles carnavalescos retornaram para a cidade em 2024.

Apesar disso, o espaço multiuso tem outras atividades ao longo do ano, como festa de Santos Reis em janeiro, a encenação da paixão de Cristo em Abril, o Batatais Car Show em outubro, entre outros. Isso mostra o quão versátil um espaço multiuso pode ser.


Eventos em Ribeirão Preto

Mesmo com todos os fatos acontecidos na última gestão, Ribeirão Preto teve a realização de grandes eventos reconhecidos nacionalmente, sejam eles de negócios (Agrishow) ou de entretenimento (CarnabeirãoJoão Rock e Ribeirão Country Fest). Eventos estes que sempre atraem uma grande quantidade de visitantes a cidade, ajudando a movimentar o comércio local.

Com exceção da Agrishow, que possui um espaço próprio as margens da rodovia Antônio Duarte Nogueira, o extinto Carnabeirão e atual João Rock acontecem no tradicional e esquecido Parque Permanente de Exposições, localizado na região norte da cidade e bastante próximo ao aeroporto Leite Lopes e antigo Jóquei Clube. A grosso modo, o parque seria uma espécie de "arena multiuso improvisada".

Em junho de 2019 foi realizada a inauguração da Arena Eurobike; um espaço multiuso que utiliza as mesmas estruturas do atual Estádio Santa Cruz (estádio do Botafogo F.C) e assim este acréscimo possibilitou que eventos e shows internacionais pudessem vir a Ribeirão Preto com maior frequencia e variedade.

Agrishow - edição 2019
Via: Automotive Business
Festival João Rock - edição 2019
Via: Terra

Arena Multiuso NicNet - Eurobike
Via: Revide

O parque permanente foi inaugurado em 1978 junto com a FEAPAM (Feira Agropecuária da Alta Mogiana). Por muitos anos a feira ficou conhecida por suas exposições de animais de pequeno e grande porte, rodeios, restaurantes e parque de diversões. Apos aproximadamente 30 edições, a Feapam acabou sendo suprimida pela Agrishow e o local passou a ser utilizado para eventos diversos como festivais de música, encontro de carros modificados e até mesmo um kartódromo instalado para a realização de pequenos campeonatos.

Mas os anos passaram para o parque permanente e sua infraestrutura não acompanhou o tempo, sendo que o local possui muitos problemas estruturais, que são resolvidos parcialmente apenas na proximidade de grandes eventos.

Entrada do Parque Permanente de Exposições
Via: Revide

Nota RT: Em uma reportagem a Folha em 1998, o presidente da Coderp na época chegou a alegar que "o objetivo da Feapam não era dar lucro para a prefeitura". Esta afirmação chega a ser absurda, tendo em vista o custo para se manter este tipo de estrutura, que não é nada baixo. Criou-se a mentalidade de que "lucro é ruim", sendo que somente através do lucro é que podemos modernizar equipamentos, contratar funcionários e adquirir novas matérias primas e equipamentos.

E um detalhe: desde esta época a Coderp já tinha seu princípio básico deturpado; onde um órgão de tecnologia ficava (e ainda fica) responsável por um parque de exposições. A Feapam realmente durou muito tempo perante a tantos erros cometidos.

Enquanto o parque permanente continua abandonado, eventos como desfiles de carnaval e festa da independência continuam sendo realizados em avenidas da cidade. A princípio pode parecer algo prático, mas a logística e custo para transformar uma via em local de desfile temporários costumam trazer resultados ruins, em relação a desvios no trânsito, incômodo de vizinhos e dificuldades em instalar estruturas como arquibancadas e banheiros químicos em uma área que não foi projetada para isso.

Por conta da ausência de um espaço adequado, continuaremos perdendo grandes eventos, como a realização do Jogos Abertos do Interior que foi cancelada pelo segundo ano consecutivo em 2016. Ribeirão Preto não pode mais perder oportunidades como esta.


Ideia utópica de hoje

Aviso: sabemos que a cidade atravessa um período complicado de falta de verbas para áreas importantes como saúde e infraestrutura viária (asfalto). Por isso a proposta pode parecer inoportuna para o momento, mas não deve ser totalmente ignorada. Que ela seja discutida em um futuro próximo tão qual a situação de Ribeirão Preto volte a se normalizar.

Aproveitando que estamos em período de festas devido ao carnaval, a proposta de hoje seria a criação de um espaço multiuso para eventos diversos. Ele teria inspiração direta ao formato utilizado no sambódromo de Batatais, mas com maiores proporções.

Para a idealização da proposta, é preciso a sequencia abaixo:
  1. Local de implantação;
  2. Responsáveis pela administração;
  3. Programação de eventos;
  4. Custo e taxa de retorno.
A primeira questão seria o melhor local para a arena multiuso. Foram pensadas duas alternativas:

1) Local de implantação
1a) Utilizar a área do antigo Parque Permanente de Exposições.

Disposição do Parque Permanente em relação ao aeroporto
e rodovia Anhanguera
Área da antiga Feapam com edificações existentes
O terreno tem aproximadamente 1730 m² e ainda possui muitas das construções que foram utilizadas quando a Feapam ainda era realizada, entre elas o barracão (onde ficavam os animais para exposição) e prédios de restaurantes. Margeada pelas avenidas Av. Dr. Luís Augusto Gomes de Matos, Av. Orestes Lopes de Camargo e com acesso a Av. Thomaz Alberto Whately pela avenida Av. Milton Tapajós Roselino, bairro Parque Industrial Quito Junqueira.

Vantagens:
  • Acesso facilitado por avenidas e rodovias;
  • Local bastante conhecido da população;
  • Reativaria o comercio da região;
  • Traria revitalização para os bairros próximos;
  • Ficaria próximo dos corredores Leste/Oeste 1 e 2 de transporte público.
Desvantagens:
  • Custos de readequação e manutenção das antigas estruturas pode ser bastante alto;
  • Necessário investimentos em obras de recapeamento no bairro;
  • Obras de internacionalização do aeroporto Leite Lopes podem gerar problemas;
  • Favela ao sul do parque permanente.
A princípio seria realizada uma vistoria completa no parque permanente em todos os níveis (infraestrutura, mobilidade, superestrutura, contratos firmados) para apenas depois ser dado o veredicto se o local pode ou não ser transformado num espaço multiuso.

Seria construído ao lado oeste do terreno uma pista em concreto com 400 m de extensão e 30 de largura. Com estas dimensões ela acomodaria a grande maioria dos desfiles e exposições que antes eram realizados na rua como carnaval (escolas de samba), desfile da independência, fanfaras marciais, eventos de arrancada, e quaisquer outros que possam se enquadrar ao espaço. As arquibancadas seriam construções permanentes, incluindo áreas para banheiros e camarotes.


As barras laranjas seriam as arquibancadas e nas extremidades da pista de concreto seriam os acessos para a pista, com largura suficiente para a passagem de veículos pesados ou carros alegóricos. Também seriam criado um acesso central para o público e veículos menores.

Foram utilizados apenas a volumetria dos imóveis e arquibancadas para melhor entendimento da proposta. Clique nas fotos para ampliar.

Os prédios brancos ao fundo são os existentes no Parque Permanente e não seriam
demolidos. A pista de kart seria removida e outros novos galpões de apoio
seriam construídos próximo da região das arquibancadas.





Este conjunto pista / arquibancada seriam construídos sobre o que seria a "continuação" da Av. Milton Tapajós Roselino; isso criaria um corredor sem interrupções de ponta a ponta no terreno, trazendo agilidade no deslocamento de veículos de serviço. O local escolhido para a pista e arquibancada evita ao máximo a demolição de quaisquer tipos de edifícios pertencentes ao parque.

Uma vantagem extra do Parque Permanente é a existência de ruas pavimentadas com largura suficiente para passagem de veículos de serviço e pessoas. O asfalto ainda se mantem em boas condições e ligam vários pontos no interior do parque.


1) Local de implantação
1b) Utilizar a área do antigo Parque Permanente de Exposições.

Nesta situação estamos falando de um local novo e com configurações parecidas com o apresentado no Parque Permanente.

Vantagens:
  • Prédios e estruturas totalmente novas;
  • Possibilidade de escolher uma região com acesso as principais avenidas;
  • Terreno pode ser ainda maior que o usado pelo Parque Permanente.
Desvantagens:
  • Grandes áreas costumam ser mais difíceis de se encontrar dentro do perímetro urbano;
  • Locais muito distantes irão desestimular as pessoas a frequenta-lo;
  • Valor para a compra do terreno pode ser tão caro quanto a da arena em si;
As projeções usadas anteriormente podem ser aplicadas para esta ideia, pois o que poderá mudar são as avenidas próximas e a disposição dos imóveis dentro do espaço multiuso. Para esta alternativa será preciso a elaboração de um projeto completo e muito mais complexo, o que poderá levar tempo até que as obras de fato inicializem.

Alem disso em época de redução de gastos públicos, a população não irá gostar de ver o pouco dinheiro disponível ser utilizado para algo de entretenimento (a não ser que grande parte do projeto seja bancado pela iniciativa privada por meio de PPPs).


2) Responsáveis pela administração

Mesmo antes do início das obras, esta questão precisa ficar bem clara e decidida. Manter a prefeitura como responsável pela área pode gerar grandes problemas caso as negociações não sejam feitas de forma transparente, abrindo espaço para a corrupção. Outra característica é sobre qual pasta será a responsável de fato, de preferência a de obras ou de infraestrutura, em parceria com a pasta de turismo e cultura.

No caso da administração ser passada para o setor privado, a empresa adotaria o espaço multiuso em forma de comodato e mostrando de que forma pretende manter o local. A mesma teria liberdade para organizar qualquer tipo de evento, desde que não atrapalhe o calendário de eventos oficiais da cidade.


3) Programação de eventos

Importante para organizar as atividades relacionadas a cultura e turismo na cidade. Muitos eventos em um mesmo mês e quase nenhum em outro são sinais de desorganização e precisam ser evitados. Da mesma forma que eventos muito complexos precisam de mais tempo para serem preparados, o que poderia atrapalhar outros eventos menores.

A regra manteria os principais eventos (exemplo: desfiles de carnaval ou dia da independência) de forma permanente e preferencial. Assim os eventos menores seriam organizados por base nas datas destes grandes eventos. Exemplo: se num determinado mês será realizado um grande show (que envolveria uma logística bastante complexa e bastante tempo), outros eventos menores como uma exposição ou seminário, seriam remarcados para um mês mais calmo e com agenda menos lotada.


4) Custo e taxa de retorno

Ao contrário do que disse o presidente da Coderp em 1998 alguns links acima, eventos foram criados para gerarem lucro e retorno. O lucro seria reinvestido no próprio espaço multiuso, modernizando equipamentos ou realizando reparos rotineiros, enquanto a taxa de retorno teria reflexo no comércio e turismo da cidade.

Nada mais frustrante do que um morador de outra cidade sair de Ribeirão com uma péssima experiencia e divulga-la para seus círculos de amizades. Quando um evento é bem organizado e estruturado, este visitante irá levar esta boa experiencia junto. Esta boa impressão poderá atrair novos visitantes ou mesmo novas empresas para a cidade. 

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Novamente reforço que uma proposta como esta pode parecer fútil em um período de ajuste de contas, mas é fundamental que todas as áreas de uma cidade tenham importância. Quando investimos bem em áreas como lazer e turismo, atraímos novos investimentos para a cidade. Dinheiro revertido na forma de impostos para a prefeitura, redução parcial do desemprego e movimentação da economia. 

Uma coisa sempre leva a outra, sejam elas boas ou ruins. Mas para o nosso bem, que nos concentremos nas boa.

Obrigado e até a próxima postagem!


Links para pesquisa

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Modernização da Área Azul

Por melhor que seja o sistema de transporte público de uma cidade, os veículos particulares ainda estarão bastante presentes em ruas e grandes avenidas; por isso é fundamental que o departamento de infraestrutura e trânsito estejam atentos as demandas existentes. Isso não se aplica apenas quando estes veículos estão em movimento, pois uma hora eles terão que estacionar e ai teremos outro problema: como acomodar uma quantidade tão alta de carros que cresce ano após ano?

A primeira opção que o motorista visualiza é a via pública, estacionando junto ao meio fio. Mas como já disse, é crescente o número de carros nas cidades, portanto encontrar uma vaga em determinadas regiões exige muita paciência. Na falta de vagas, muitos optam por estacionamentos privados, pagando por hora ou fração de utilização. Este procedimento pode ser vantajoso quanto usado de forma moderada, mas passa a pesar bastante no bolso quando o motorista faz uso dos estacionamentos todos os dias.


Já alguns comerciantes optam por aumentarem o recuo frontal de seus estabelecimentos comerciais para poder acomodar os veículos de seus clientes. Em Ribeirão Preto, avenidas como Independência e Presidente Vargas possuem esta configuração. Neste caso o cuidado é para que os veículos não atrapalhem a passagem de pedestres na calçada.

Por fim temos os locais com grande fluxo de pessoas, chamados de polos geradores de tráfego, onde é preciso a construção de um estacionamento com maiores dimensões e infraestrutura adequada. Nesta categoria se enquadram os shoppings centers, grandes hospitais e universidades.

Carros estacionados em uma rua de Pernambuco
Foto via: Diário de Pernambuco
Estacionamento privado no Distrito Federal
Via: Engenho de Notícias
Estacionamento de shopping em São Paulo - SP
Foto via: Estadão
Existem várias alternativas que variam da qualidade do serviço a valores cobrados por hora. Tendo isso em vista, muitas prefeituras tem adotado um tipo de serviço bastante comum: a Área Azul.


Área Azul - definições

Também conhecida como Zona Azul em algumas cidades, trata-se de um serviço que visa trazer rotatividade a oferta de vagas de uma rua ou região da cidade e que é regulamentada pelo Código de Transito Brasileiro. Normalmente as regras variam de uma cidade para outra e são definidas pela prefeitura junto com o departamento de trânsito correspondente.

Área Azul em rua de Campinas-SP
Via: CBN Campinas


Guarulhos, Curitiba, Belo HorizontePalmas e demais cidades brasileiras já utilizam o sistema de vagas rotativas, todas de forma bastante parecida: são delimitadas as ruas, avenidas ou quadras de uma região com sinalização indicativa orientando quanto ao horário e dias que a Área Azul funciona. Normalmente o usuário compra o talão em lojas credenciadas e preenche quanto tempo irá ficar na respectiva vaga e o horário que a ocupou. O controle é feito por funcionários da prefeitura, que verificam os dados e se o usuário passou o tempo limite marcado no talão.

Recentemente a cidade de São Paulo lançou o que seria considerado a evolução do sistema com o chamado Zona Azul Digital, onde o motorista poderá comprar créditos para estacionar nas vagas rotativas através de um aplicativo próprio para celular. O novo sistema eliminou os antigos cartões de papel.

Aplicativo Zona Azul Digital usado em São Paulo
Foto via: IG Ultimo Segundo

Apesar de todos os esforços e melhorias, o sistema de Área Azul é bastante questionado por motoristas, onde uma das maiores reclamações é a real função do serviço. Muitos alegam que "a rua é pública e livre para estacionamento" e a prefeitura não teria direito de cobrar do motorista para estacionar em determinadas áreas, tendo em vista apenas a função de arrecadação.

Primeiro na questão do uso da rua; o máximo que o poder público pode fazer é permitir o estacionamento na via, desde que ele não prejudique o fluxo de veículos ali existente. Não existe nenhuma definição ou garantia sobre o motorista ter direito ao estacionar seu veículo na rua. 

A ideia principal da Área Azul é proporcionar a rotatividade de vagas, estimulando que mais veículos possam utiliza-las, que por sua vez irão atrair novos clientes para o comércio. Claro que o fator arrecadação incomoda, mas teoricamente o dinheiro arrecadado deveria ser utilizado na manutenção do sistema, como pagamento de agentes, instalação de placas, melhorias no aplicativo, entre outros que sejam pertinentes. Digo teoricamente pois na prática muitos sistemas funcionam de forma bastante nebulosa e com pouquíssima transparência sobre suas atividades.


Outra reclamação abordada seria a garantia de segurança quanto aos carros estacionados. Nos estacionamento privados ou mesmo oferecidos por comércios, a responsabilidade do veículo é do proprietário do estabelecimento (a placa "Não nos responsabilizamos por quaisquer danos ou furtos" não é válida e pode ser considerada ilegal, seja em em estacionamentos gratuitos ou pagos). Portanto assim como em um estacionamento privado, existem responsáveis pelo estacionamento público, que neste caso seria o estado.

O problema nesta situação seria entrar com um processo contra o estado caso seu veículo sofresse algum furto ou roubo, mas estes tipos de ações costumam durar anos e muitas vezes por conta da extensa burocracia, a vítima acaba desistindo do processo (por isso muitas pessoas optam pela contratação de seguro privado contra roubos e danos). Vale lembrar que o estado tem o dever de evitar atos de violência contra os veículos estacionados e seus proprietários, mas que não possuem a obrigatoriedade de indenizar, tanto que surgiram boatos alegando que a "Área Azul deve pagar por carros furtados".



Área Azul em Ribeirão Preto

Até o fim de mandato da ex-prefeita Darcy Vera, muitos assutos de baixa complexidade acabaram se transformando em verdadeiras novelas mexicanas. E com relação a Área Azul não foi diferente. Nos últimos anos o sistema foi tratado com muito descaso, onde não existia qualquer controle sobre a questão de tempo que os carros permaneciam parados nas vagas. Não existiam mais agentes de fiscalização e tanto os marronzinhos quanto a PM não conseguiam dar conta de manterem mais esta atividade em suas rondas.

Em agosto de 2015 o executivo ordenou o aumento da tarifa de R$ 1,00 para R$ 3,00 alegando "defasagem no preço desde 1998". Um valor considerado alto tento em vista a péssima situação do serviço na cidade. No mesmo mês a justiça ordenou a suspensão do aumento da tarifa. Em julho de 2016 a prefeitura novamente entrou com pedido de aumento da tarifa e novamente a justiça interviu, mas desta vez proibindo a cobrança de qualquer valor da Área Azul até que tudo fosse regularizado. Ao contrário do que muitos achavam, a Área Azul nunca foi criada como projeto de lei, mas apenas como decreto (nº 35/1985). Em novembro de 2016 foi a vez da câmara de vereadores derrubar o decreto de lei. Neste período, a cobrança ficou suspensa e o uso das vagas rotativas foi liberado.

Carros estacionados na Área Azul no Centro de Ribeirão Preto
Foto via: ACidade ON


Um dos motivos alegados na época para o aumento da tarifa é a comparação com outras cidades como São Paulo e Campinas. Isso não serve de base para nada! Muitas destas cidades oferecem um serviço de Área Azul com muito melhor qualidade, sendo que Ribeirão só teria de igual apenas o preço cobrado. A desorganização era tamanha, quem a antiga administração planejava implantar Área Azul em avenidas como Nove de Julho e Dom Pedro I, vias que futuramente teriam corredores estruturais de transporte público e que suas vagas de estacionamento seriam eliminadas! A antiga administração tinha formas bastante perigosas de se governar.

Até o momento desta postagem, o então prefeito Duarte Nogueira tenta novamente enviar um projeto de lei para a regulamentação da Área Azul em Ribeirão Preto. E assim esperamos os novos capítulos desta novela.

Acredito que o sistema de Área Azul deva continuar existindo em Ribeirão Preto. Infelizmente não vivemos em uma sociedade utópica onde todas as regras e respeito ao próximo são seguidas exatamente. Manter o sistema sem nenhum controle de rotatividade pode trazer vários problemas:
  1. Uso das vagas por mais de duas horas: isso eliminaria o fator rotatividade em uma região com tamanha ausência de vagas disponíveis. Isso faria com que carros ficassem estacionados por horas ou mesmo por dias (no caso de moradores da região central);
  2. Uso das vagas por todos, menos por clientes: não é novidade que funcionários e donos de comércios costumam estacionar seus carros em frente a seus negócios, fazendo com que tais vagas fiquem ocupadas durante todo o horário comercial, prejudicando principalmente os clientes;
  3. Aumento da presença de flanelinhas: é possível encontrar estes "guardadores de veículos" em regiões muito próximas ao hipercentro, agindo livremente de forma impuni e extorquindo quaisquer motoristas que precisem estacionar seus carros.

Atualização 11/05/2022: O portal Farolete conseguiu por meio da Lei de Acesso a Informação maiores detalhes de uma futura mudança no sistema de Área Azul de Ribeirão Preto. Confira!

Ideia utópica de hoje

As ideias propostas abaixo devem ser discutidas e propostas somente depois da apresentação de um projeto de lei sério e definitivo que regulariza a Área Azul na cidade. Sem isso, qualquer ideia apresentada não surtirá efeito algum. Segue a lista abaixo:
  1. Sistema de ticket digital;
  2. Paquímetros automáticos;
  3. Marcação e numeração de vagas;
  4. Programa Jovem Aprendiz;
  5. Compra de créditos via aplicativo de celular
  6. Redistribuição e acréscimo de novas vagas;
  7. Eliminação de vagas em corredores de ônibus;
  8. Edifícios garagem;
  9. Sistema de vagas rápidas.

1) Sistema de ticket digital

Utilizado em cidades como São Sebastião do Paraíso, o procedimento é parecido com a compra de um bilhete de papel, mas neste caso o mesmo não precisa ser deixado no interior do veículo. O usuário compra o ticket com um dos agentes de rua ou diretamente em uma loja credenciada, define se ficará 1 ou 2 horas, digita a placa do veículo e a central irá receber a informação se o veículo está ativo ou não na vaga. Assim o agente poderá fazer a consulta e verificar se o tempo limite da vaga foi atingido. O usuário também pode comprar créditos através do aplicativo Central Park.

Agente fazendo a verificação de veículo em rua
de São Sebastião do Paraíso - MG


2) Parquímetros automáticos

São equipamentos onde o próprio usuário realiza a compra dos bilhetes, de maneira prática e com display digitais, trazendo alidade em sua operação. A ideia é instalar os paquímetros em áreas que não possuem estabelecimentos comerciais credenciados. Os modelos utilizados em Santa Barbara do Oeste por exemplo, são movidos a energia solar, o que evita transtornos em caso de falta de energia elétrica e redução nos custos de manutenção.

Parquímetro em rua de Santa Barbara do Oeste - SP
Foto via: G1.com
Paquímetro em rua de Montenegro - RS
Via: Fato Novo

3) Marcação e numeração de vagas no solo

Este procedimento é fundamental para a prefeitura saber exatamente quantas vagas cada quadra da região poderá comportar. Em alguns casos este tipo de medida pode até aumentar a quantidade de vagas disponíveis na via. A pintura de solo teria o comprimento médio de um veículo convencional, acompanhada de uma numeração que identificasse a quadra, o lado da via que ela ocupa e a numeração em relação a quadra. Isso facilitaria inclusive para os agentes identificarem a correta localização do veículo estacionado.

Marcação de vagas em rua de Socorro - SP
Foto via: Prefeitura de Socorro
Exemplo de numeração para vagas
4) Programa Jovem Aprendiz

Em Ribeirão Preto na década de 90, era comum encontrarem adolescentes que faziam o serviço de venda e conferência dos bilhetes da Área Azul. Com o tempo a prefeitura acabou por dispensar estes jovens e o número de agentes ficou muito abaixo do recomendado para a boa qualidade do serviço. Alem disso, com a reformulação do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) alguns tipos de trabalhos realizados foram praticamente extintos.

A ideia seria através de programas como Ribeirão Jovem (municipal) ou Jovem Aprendiz (federal) para a contratação destes adolescentes com a função de agentes da Área Azul, assim dando-lhes oportunidade de trabalho. Cidades como Jaboticabal tem utilizado este tipo de incentivo desde 2008.

Jovens orientando motoristas em Volta Redonda - RJ
Via: Diário do Vale 

5) Compra de créditos via aplicativo de celular

Trata-se do sistema implantado em São Paulo recentemente chamado Zona Azul Digital. O usuário cria um CAD (Cartão Azul Digital) e pode ser utilizado em qualquer região que possua uma placa identificando que ali é permitido estacionar quem possui CAD devidamente cadastrado. O sistema possui o mesmo princípio do seu antecessor de papel, mas com a praticidade de ser totalmente online e com a permissão de adicionar mais de um veículo a conta do usuário. Por se tratar de um sistema mais complexo, você poderá encontrar mais detalhes diretamente no site da CET.

O sistema tem sido implantado em mais cidades como Jaguariúna, São Carlos, Sumaré, Botucatu, entre outras que ainda estão em faze de implantação.



6) Redistribuição e acréscimo de novas vagas (enviada por André Targa)

A Área Azul de Ribeirão tem sua grande maioria de vagas na região central e parte dos Campos Elíseos (Avenida da Saudade) e desde então nunca passou por uma reformulação. 

Mapa indicando as ruas do Centro com demarcação de Área Azul
Foto via: ACidade ON

A disposição das ruas é bastante irregular, sendo que ruas como Prudente de Morais e Lafaiete possuem interrupções devido a eliminação de vagas. Regiões entre a Praça XV e avenida Francisco Junqueira poderiam receber novas vagas ou mesmo servirem de local para as que seriam removidas de locais inadequados, como segue a próxima ideia.


7) Eliminação de vagas em corredores de ônibus (enviada por André Targa)

Infelizmente existem medidas que podem ser bastante impopulares, mas necessárias. É o caso das vagas rotativas que ficam em ruas com grande fluxo de ônibus. Estas vagas seriam remanejadas para ruas paralelas ou perpendiculares, o que traria mais agilidade nas vias que sejam corredores do transporte coletivo. Medida que precisaria ser bem explicada principalmente para comerciantes da região.

Trecho da rua Barão do Amazonas
Foto via: OLX
8) Edifícios garagem

Proposta já debatida em agosto de 2015. Nela são explicadas as vantagens destas estruturas e sua capacidade de aproveitar o mínimo espaço disponível para vagas de estacionamento. Confira a proposta completa neste link.



9) Sistema de vagas rápidas

São vagas onde o motorista poderá parar por no máximo 10 a 15 minutos com o pisca-alerta ligado, para resolver situações rápidas e emergenciais. Elas seriam colocadas em locais estratégicos como hospitais, farmácias e bancos. Nestas vagas a fiscalização seria mais intensa justamente para evitar que motoristas oportunistas deixem seus carros parados por um período superior a 15 minutos. Sistema já utilizado em Gravataí e Santa Barbara do Oeste.

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O que eram para ser apenas três ideias, acabou se transformando em quase dez. Todas podem ser discutidas e aplicadas na devida proporção em nossa cidade. Exemplos são o que não faltam.

Mas gostaria de citar um fato acontecido em uma das reuniões ocorridas ano passado entre vereadores e equipe da Transerp. Na época o órgão de trânsito simplesmente alegou que não seria viável a instalação de paquímetros por alegar que eles "eram uma tecnologia ultrapassada" e que não valeria a pena utiliza-los na Área Azul. Dezenas de cidades no Brasil utilizam esta tecnologia e justamente Ribeirão Preto, que sequer possui um sistema de vagas rotativas ativo, alega que os demais municípios estão atrasados?

Espero sinceramente que a nova administração não aja de forma parecida, pois alem de nossa cidade ter ficado bastante atrasada em relação as demais, ainda vamos ter crises de inveja de nossos vizinhos? Ajudem a divulgar a proposta!


Obrigado e até a próxima postagem!




terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Duplicação da Av. Rio Pardo (novo acesso a Via Norte / reurbanização de favela / corredor BRT)

Um dos maiores desafios de gestores municipais que trabalham com mobilidade urbana é saber planejar e prever futuras demandas de tráfego. É preciso um alto conhecimento técnico de urbanismo e engenharia de transito, isento de populismos e interesses partidários, para que tais obras possam cumprir seu real propósito e beneficiar centenas de pessoas.

Conforme já citei aqui no blog na proposta de readequação de avenidas, Ribeirão Preto ainda possui muito potencial em relação a sua malha viária, o que pode evitar problemas futuros de mobilidade urbana na cidade. Em especial a zona norte, foram apresentadas propostas que focavam na Conversão da Av. Dom Pedro I em mão únicaViaduto da Av. Zerrener com Via Norte (Centro-Bairro)Viaduto entre as ruas Goias e André Rebouças. Mas existe uma avenida na região que foi bastante subestimada nos últimos anos e que devidamente revitalizada, traria inúmeros benefícios: a avenida Rio Pardo.


Avenida Rio Pardo cruzamento com rua Bahia
Avenida Rio Pardo próximo a rua General Câmara

Avenida Rio Pardo cruzamento com avenida Dom Pedro I 

Avenida Rio Pardo no bairro Jd. Paiva
A avenida Rio Pardo é uma avenida bastante antiga na cidade, cruzando bairros como Ipiranga e Alto do Ipiranga, alem de fazer divisa com Planalto Verde e Jardim Paiva. O trecho da avenida entre a Via Norte e rua Tapajós é de pista simples, com uma faixa de rolamento para cada lado, tendo o estacionamento permitido do lado norte; o trecho entre a avenida Dom Pedro e Francisco Massaro possui características parecidas, com a diferença de permitir estacionamento em ambos os lados. Já o trecho entre a Francisco Massaro até próximo a USP possui pista dupla com duas faixas de rolamento para cada lado, alem da permissão de estacionamento.

Uma característica em especial da avenida é ser paralela ao ramal ferroviário (antes pertencente a FEPASA, atualmente FCA), que no passado cruzava grande parte da zona norte da cidade e seguia para Sertãozinho.

Teoricamente a avenida tem seu início na Via Norte e termino aos fundos da USP (Universidade de São Paulo). Teoricamente porque ela possui algumas interrupções ao longo do caminho impedindo que motoristas possam usa-la de maneira contínua, de forma a cruzar boa parte da zona norte sem precisar acessar ruas locais de diversos bairros.

Interrupção 01: a Avenida Rio Pardo segue até a rua Itapicurú, continuando
somente apos a avenida Dom Pedro I. A linha em vermelho indica o antigo
ramal ferroviário existente, hoje desativado
Interrupção 2: trechos da Rio Pardo desapareceram por conta de ocupações
irregulares na área da antiga linha férrea. A pista Dom Pedro sentido USP
atualmente é mão dupla.
Problemas na Rio Pardo

Mesmo sendo uma via importante para a região norte, existem problemas crônicos que causam muitos transtornos para os moradores que a acessam. Entre eles:

  • Interrupções na via: os trechos citados nas imagens acima mostram a dificuldade que o motorista teria para cruzar o bairro, precisando assim passar por vias paralelas até conseguir chegar a Dom Pedro I por exemplo;
  • Favela da Coca-Cola: ocupa grande parte da área da antiga ferrovia, tendo aproximadamente 3 km² e sendo uma das maiores favelas de Ribeirão;
  • Lixo, lixo e mais lixo: por ser uma região abandonada e sem nenhuma estrutura, vários pontos da avenida se transformaram em lixões a céu aberto, onde são jogados resíduos da construção civil e lixo doméstico.
Inúmeras campanhas eleitorais para prefeito prometiam a retirada dos trilhos da antiga FEPASA e até mesmo a implantação de um sistema de "metro de superfície" utilizando a estrutura existente. Mas nunca foi apresentado nada de concreto para a região.

Com isso áreas abandonadas, como o trecho próximo a fábrica de bebidas Ipiranga, começaram a ser invadidas e aos poucos se transformando em uma grande favela, que ficou conhecida infamemente como "Favela da Coca-Cola" (por sua proximidade a fábrica de refrigerantes na avenida Dom Pedro I). 

Extensão total da favela

Avenida Rio Pardo (lado sul)

Avenida Rio Pardo (lado norte)
Os problemas da avenida Rio Pardo se estenderam nos últimos anos e nunca nenhum projeto foi apresentado para resolve-los. Pelo menos até agora.

Ideia utópica de hoje

A proposta de hoje tenta ilustrar alternativas para transformar a esquecida avenida Rio Pardo em um importante corredor viário para a região. Seguem os itens abaixo:
  1. Novo acesso da Via Norte para a Rio Pardo;
  2. Duplicação total da avenida Rio Pardo;
  3. Túnel sob a avenida Dom Pedro I;
  4. Remoção da favela (projeto de reurbanização popular);
  5. Implantação de futuro corredor BRT.
As ideias apresentadas tem os seguintes objetivos:
  • Desafogar o trânsito da avenida Dom Pedro I: a duplicação da Rio Pardo atrairia os motoristas que usam a avenida Dom Pedro I apenas como passagem (moradores dos bairros José Sampaio, Planalto Verde, Parque das Andorinhas entre outros), o que traria um grande alívio de tráfego na região;
  • Estimular a construção de edifícios de alta densidade: toda a extensão da Rio Pardo é predominante de residências unifamiliares de pavimento único (térreo). Com a liberação e duplicação da avenida, novos empreendimentos imobiliários residenciais e comerciais de alta densidade podem ser autorizados, o que maximizaria o uso da avenida e mesmo do futuro BRT. Alem disso o adensamento permite que os serviços públicos próximos sejam melhor utilizados, reduzindo os gastos e custos de manutenção no médio e longo prazo;
  • Planejar futuros loteamentos na região oeste: com a duplicação da avenida, podem ser pensados novos lotes urbanizados para a região oeste da cidade;
  • Desafogar ruas paralelas: veículos que antes usavam estas ruas para poderem chegar a outras avenidas, agora poderia usar diretamente a nova Rio Pardo, aliviando ruas paralelas que foram projetadas apenas para tráfego local;
  • Realocar famílias para novas áreas adequadas: as pessoas que ocupam a favela seriam levadas para novas regiões com toda a infraestrutura necessária. Maiores detalhes a seguir.
1) Novo acesso da Via Norte para a Rio Pardo.

O acesso atual é bastante simplificado pelo fato da avenida ser de pista simples. A ideia seria a construção de um viaduto e vias de acesso para os veículos que usassem a Via Norte, evitando sua entrada na avenida Dom Pedro e trazendo mais agilidade para acessarem os bairros próximos.


O viaduto passaria sobre o córrego e terminaria em duas alças de acesso na Via Norte lado sul. Já as setas em vermelho indicam acessos de entrada e saída para os veículos que estiverem entrando ou saindo da Via Norte lado norte.

Outra informação importante: com este viaduto, os veículos que viessem da avenida Francisco Junqueira ou Centro e precisassem chegar aos bairros da região norte, poderiam seguir diretamente para a Via Norte, sem necessariamente passarem pela avenida Silveira Martins e Capitão Salomão. Assim o tráfego destas duas avenidas seria partilhado com a Via Norte, reduzindo o número de carros que antes passavam por apenas uma avenida.


2) Duplicação total da avenida Rio Pardo.

 A partir do viaduto sobre o córrego, a Rio Pardo seria devidamente duplicada seguindo a configuração abaixo:

Clique na imagem para ampliar

  • Largura aproximada: 30 metros;
  • Faixa de estacionamento lado bairro;
  • Duas faixas de rolamento em cada lado da via;
  • Pista exclusiva para ônibus;
  • Canteiro central de 4 metros de largura;
  • Ciclovia bidirecional de 3 metros de largura.
O canteiro central largo permitiria acomodar futuras estações de BRT e arborização adequada. A faixa de estacionamento seria mantida do lado bairro, mesmo quem grande quantidade dos imóveis possuam recuo frontal grande o suficiente.

A partir da Dom Pedro I, a duplicação seguiria uma nova configuração:

Clique na imagem para ampliar


  • Largura aproximada: 55 metros;
  • Faixa de estacionamento ambos os lados;
  • Duas faixas de rolamento em ambos os lados;
  • Canteiros com 9 e 4 metros de largura (aproximadamente);
  • Faixa exclusiva de ônibus e canteiro com 4 metros de largura;
  • Ciclovia bidirecional de 3 metros de largura
O canteiro da Rio Pardo neste caso teria uma largura de aproximadamente 10 metros, o que evitaria uma extração em massa das árvores nele existentes e até mesmo a criação de um pequeno parque linear junto ao corredor BRT.

3) Túnel sob a avenida Dom Pedro I

No Pacto pela Mobilidade (apresentado pelo governo municipal anterior no início do mandato 2013-2016) foram apresentados vários projetos de obras urbanas para a cidade, entre elas a de um túnel sob a avenida Dom Pedro I. Para maiores detalhes de todas as obras prometidas, confira a penúltima publicação de 2016.

Como nunca foram apresentadas projeções sobre a obra, criei uma paralela com alguns detalhes de como ela poderia ser implantada.



  • Sob a avenida passariam o corredor de ônibus e uma faixa de rolamento para o tráfego. A segunda faixa seria para acesso a Dom Pedro I;
  • O motorista que saísse do túnel logo acessaria uma via de acesso para a pista a direita da Rio Pardo, de modo a não prejudicar os veículos que saíssem da Dom Pedro I. O mesmo valeria para a via contrária da Rio Pardo, mas de forma inversa;
  • Um semáforo seria implantado nas alças de acesso sul destinada as conversões a esquerda, para veículos que fossem sentido a avenida Luis Galvão Cesar;
  • A princípio pensei em criar uma proposta apenas como um cruzamento em nível (assim como é nos cruzamentos das avenidas Presidente Vargas e João Fiúsa), mas o túnel traria muito mais agilidade para os motoristas que precisassem cruzar a região.

4) Remoção da favela (projeto de reurbanização popular)

Remover estas moradias não é apenas um trabalho de planejamento urbano, mas também um trabalho social. Deve-se pesquisar porque seus moradores decidiram ocupar o local; fatores que podem variar que vão desde a falta de políticas habitacionais adequadas ou mesmo falta de oportunidades no mercado de trabalho.

Muitas famílias acabam vindo para grandes cidades em busca de trabalho e na dificuldade de encontrar oportunidades, acabam se alojando em moradias rusticas sem nenhuma infraestrutura básica como água, energia ou rede de esgoto. Outro grande problema vivido por estas pessoas é a violência. Apesar da grande quantidade dos moradores serem apenas trabalhadores, bandidos costumam se aproveitar da alta vulnerabilidade social vivida por estas pessoas e usar a favela como ponto de esconderijo das autoridades policiais. Desta forma muitos moradores acabam ficando em meio a esta guerra.

Conjunto habitacional em São Bernardo do Campo
ao lado de uma favela
Foto via: Wikipédia
Outro equívoco na desapropriação seria o local escolhido para estes moradores. Estamos falando de bairros que muitas vezes ficam completamente isolados da cidade e sem nenhum tipo de serviço público básico como postos de saúde, escolas, creches, linhas de ônibus e cobertura policial. Independente dos moradores do bairro, é necessário este tipo de infraestrutura. Isso evitaria até outro fenômeno: o de pessoas que vendem as residencias recém adquiridas e acabam voltando para a favela onde moravam.

Na proposta, a sugestão seria realocar estas pessoas em uma área entre o Jardim Wilson Toni e Planalto Verde. Através de convênios com o governo do estado (ou mesmo reativando a COHAB de Ribeirão Preto) seria estudada a possibilidade de um novo condomínio residencial, com edifícios de até 5 pavimentos e com a vantagem de estarem próximos de infraestrutura existente. Nesta situação, a avenida Dr. Galdos Angulo seria devidamente duplicada, evitando assim um futuro gargado no transito da região.


Seriam aproximadamente 20 torres com 4 pavimentos cada uma. Com seis apartamentos por andar seriam 20 apartamentos por torre, resultando em aproximadamente 200 apartamentos ao todo no conjunto habitacional. Isso levando em conta apartamentos com média de 60 m².

Observação: a utilização do terreno seria apenas uma suposição, pois não consegui informações sobre seu proprietário ou sua disponibilidade para construções. Em caso negativo, outros vazios urbanos próximos podem ser estudados.

5) Implantação de futuro corredor BRT

Uma vez a avenida devidamente adequada, aumentariam as possibilidades do BRT Noroeste enfim sair do papel. Entre os objetivos apresentados no início, a liberação de edificações de maior densidade estaria interligada com a criação do novo modal. O sistema troncal de Curitiba foi baseado neste mesmo princípio, basta reparar na grande quantidade de prédios residenciais e comerciais paralelos as canaletas do BRT.


Projeção da Estação Ipiranga

Saiba mais: BRT de Curitiba tornou cidade “mais inovadora do mundo”

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Esta é a proposta para a revitalização e abertura da avenida Rio Pardo na região norte de Ribeirão Preto. Pode parecer algo complexo e a beira do impossível de ser realizada, mas um primeiro passo já foi dado: a ilustração de uma proposta para discussão. Leve-a entre seus amigos, familiares e cobre um posicionamento junto a prefeitura e vereadores. Nunca paremos de evoluir.

Obrigado e até a próxima postagem!


Links para pesquisa
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