terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Parcerias Público-Privadas (PPP)

Administrar uma cidade pode ser comparado com administrar uma empresa (nas devidas proporções) por conta de todos os desafios, problemas e oportunidades que possam surgir. O objetivo principal de uma empresa é gerar lucro, pois é através dele que a mesma poderá se expandir, adquirir novos equipamentos, contratar novos funcionários, entre outros. Para gerar lucro ela deve montar uma estratégia de mercado eficiente para que seus produtos e serviços possam ser vendidos; do contrário, uma má estratégia pode comprometer os ganhos e levar esta mesma empresa a falência.

No setor público, a diferença é que o dinheiro para mante-lo vem diretamente dos impostos. Considerando que o país vem ano a ano batendo recordes de arrecadação, seria irracional dizer que o governo "não tem dinheiro" para realizar tais obras e manter serviços. O resultado todos nós conhecemos: estruturas precárias, falta de materiais e qualidade ruim no atendimento à população.

Toda prefeitura deve reconhecer suas limitações e uma forma de continuar prestando serviços a cidade de forma indireta é realizando parcerias entre o setor privado. Dai surge uma alternativa que pode minimizar ou mesmo eliminar os problemas existentes: a formação de uma PPP - Parceria Público Privada.

Metrô de Salvador, construído por meio de PPP
Via: Blog Stefano Dias
Saiba mais: O que são Parcerias Público-Privadas (PPP)? - recomendado

As PPPs são contratos, geralmente de longo prazo, estabelecidos entre poder público e empresas privadas para a construção de determinadas infraestruturas e sua respectiva manutenção e prestação de serviços.

Como infraestrutura podemos considerar a construção de estradas, linhas de metrô, manutenção de parques ou quaisquer atividades complexas que necessitem de mão de obra técnica e especializada. Os contratos normalmente são de longo prazo para que a empresa tenha tempo de recuperar todo o capital investido em determinada obra.

Obs: não se utiliza PPPs para contratos de curto prazo como serviços de vigilância ou fornecimento de alimentação. Para estes casos o mais adequado seriam contratos de terceirização.

Habitações populares em São Paulo - SP
Via: Blog do Zitto

Uma vez que um contrato de PPP seja firmado, a empresa responsável poderá obter o dinheiro investido por meio de cobrança de tarifas ou mesmo por subsídios públicos. Todo o risco envolvido deve ser calculado tão qual acontece no setor privado: risco de construção, risco de demanda, risco político, entre outros que podem surgir em determinados momentos. Nenhum investidor ou empresa gosta de perder dinheiro e só assumem riscos controlados depois de avaliarem todo o contexto da situação.


"Apenas" construir X Construir e administrar

Este ponto é muito importante pois pode determinar a qualidade dos serviços prestados depois das estruturas já prontas e entregues. Quando uma empresa assume a função de construir a infraestrutura e manter sua operação, a tendência é de que sejam utilizados materiais de melhor qualidade e durabilidade, afim de reduzir gastos com manutenção ao longo dos anos.

Por outro lado, quando o contrato envolve apenas a construção da estrutura e a entrega da mesma ao governo, a qualidade da mesma pode ser comprometida por questão na economia de custos. Muitas vezes a prefeitura ou setor público responsável pouco acompanha o processo de construção, assim ignorando possíveis problemas futuros que podem ocorrer.

Shoppings em terminais de ônibus em SP via PPP
Via: Diário do Transporte
A questão da viabilidade também é importante. Entre elas se destacam:

- Viabilidade financeira: trata-se do lucro que a empresa obterá com a PPP e envolve as receitas e despesas geradas no processo. Pode parecer egoismo insistir neste ponto, mas o lucro é fundamental para a empresa decidir se deve ou não investir em determinado negócio.

- Viabilidade econômica: trata-se dos custos e benefícios sociais envolvidos. Exemplo: uma nova rodovia pode reduzir o tempo de viagem dos motoristas e atrair novas empresas para a região (benefícios), como também pode aumentar a poluição e trazer pedágios com valores muito acima do esperado (custos).

Um último ponto e não menos importante, seria toda a transparência envolvida no processo. Um contrato do tipo PPP precisa ser muito bem detalhado para evitar erros de interpretação e trazer uma relação ganha-ganha benéfica. Caso um dos lados saia prejudicado, os prejuízos financeiros e econômicos podem ser desastrosos.


PPPs em Ribeirão Preto

Infelizmente um dos casos mais conhecidos em Ribeirão seria a polêmica PPP do Lixo. O que poderia ser uma alternativa para resolver os problemas relacionados a coleta de lixo e resíduos sólidos na cidade, acabou se tornando um longo caso debatido nos tribunais e meios policiais.

Caminhão de lixo da empresa de coleta atual
Via: G1

A situação vem se arrastando desde a gestão municipal passada e o governo atual ainda não conseguiu resolver todos os impasses.

Felizmente existem casos onde as PPPs tem demonstrado bons resultados e pode se estender por demais regiões na cidade. Um deles é a revitalização do Cristo Redentor no Parque das Oliveiras, realizada pela construtura Pacaembu. Outro exemplo bem sucedido é o Parque das Artes, restaurado pelo RibeirãoShopping do grupo Multiplan.

Morro do Cristo no parque das Oliveiras
Via: Revide
Parque das Artes, zona sul de Ribeirão Preto
Via: Varal Diverso
A mesma construtura anunciou que irá realizar a manutenção e revitalização do parque Tom Jobim, região norte de Ribeirão.



Em suma, as PPPs são uma contrapartida interessante entre prefeitura e empresas privadas, que incentivam que novos investimentos sejam realizados na cidade, mantem o setor público focado nas demais regiões da cidade e traz qualidade de vida e bons serviços para a população. Quando realizadas de forma transparente, podem trazer inúmeros benefícios a todas as partes envolvidas.


Ideia utópica de hoje

Aproveitando a lenta retomada da economia e a situação razoavelmente favorável das contas públicas de Ribeirão Preto, a proposta de hoje ilustra algumas possíveis PPPs que poderiam ser firmadas em diversas áreas que necessitem de atenção imediata. 

A contrapartida envolvida seria a empresa ter autorização para anunciar sua marca na forma de placas de publicidade na devida proporção de acordo com a região instalada. Seguem abaixo:

1- Placas de logradouros (toponímicas)

A primeira proposta publicada no blog foi a criação de placas personalizadas de logradouros de acordo com a região a serem instaladas. A ideia seria as empresas investiram na instalação e manutenção destas placas, de acordo com configuração pré-determinada e em troca a empresa teria liberdade para explorar a publicidade das mesmas. Talvez sejam necessárias algumas alterações básicas na lei Cidade Limpa devam ser realizadas para que as placas possam ser instaladas de forma correta.

Placas com anúncios de publicidade em Ouro Branco - MG
Via: Site Prefeitura de Ouro Branco
2- Manutenção de praças e área públicas

Assim como o Parque das Artes e Parque Tom Jobim, outros parques e praças poderiam receber manutenção via PPPs. Assim como as placas de logradouros, as empresas poderiam explorar parte do canteiro das praças para publicidade, em troca de se comprometerem com a manutenção da área.

Parque aquático em Iratí - PR
Via: Rádio Najuá
3- Iluminação pública em LED

As lâmpadas de LED possuem maior durabilidade, maior facho de luz e custo de manutenção menor em comparação com as tradicionais lâmpadas de sódio. Uma PPP poderia ser firmada para que todos os postes das avenidas e áreas públicas possam receber este tipo de iluminação.

Iluminação de avenida em Caraguatatuba - SP
Via: G1
4- Aluguel de bicicletas (Bike Sharing)

Proposta já mencionada em 2016, o serviço de bike sharing tem se popularizado em todo o mundo, inclusive no Brasil. Parcerias com os bancos Bradesco e Itaú permitiram que este tipo de serviço fosse implantado em várias capitais como São Paulo e Rio de Janeiro. Para maiores detalhes sobre o bike sharing, conheça a proposta completa.

Bike BH em Belo Horizonte - MG
Via: Mobilize
Obs: para que o projeto tenha sucesso de fato, é preciso desengavetar o Plano Cicloviário de Ribeirão Preto, parado desde 2007 e prometido de forma parcial junto com as obras do PAC da Mobilidade, anunciado em 2012.

5- Bosque e zoológico Fábio Barreto

Maior cuidado com os animais preservados, manutenção de placas e limpeza do local seriam algumas das responsabilidades da empresa que ficasse responsável pelo local. Antes mesmo poderia ser interessante a remoção do zoológico para uma área maior onde os animais possam ter um melhor tratamento e atenção, como a região da mata de Santa Teresa. Isso também ajudaria a preservar esta importante área verde da cidade.

Entrada do bosque e zoológico Fábio Barreto
Via: TripAdvisor
6- Abrigos nos pontos de ônibus

A divisão da manutenção poderia ser de acordo com a região ou priorizando determinadas ruas e avenidas de interesse das empresas. Esta ideia ainda precisaria de mais discussão, pois recentemente a prefeitura teria anunciado um edital para a concessão de publicidade nestes mesmos abrigos. Um novo formato poderia ser projetado, conforme já publicado em proposta aqui no blog.

Sugestão de abrigo para ponto de ônibus em Curitiba por meio de uma PPP
Via: Blog Carlos Brito
7- Lixeiras (sugestão de André Targa)

As poucas lixeiras existentes na cidade estão localizadas apenas na região do hipercentro e algumas poucas avenidas. Uma PPP poderia ser elaborada onde as empresas poderiam explorar a publicidade na própria estrutura de coleta e priorizar avenidas e vias de grande circulação com alta concentração de pedestres, alem poderem ser criadas regras específicas para a instalação das mesmas em praças e parques. O trabalho de limpeza ficaria a cargo da Coordenadoria de Limpeza Urbana. As lixeiras funcionais já foram citadas na proposta de Modernização de Praças e pode ser conferida de forma completa neste link.

Lixeira com espaço para publicidade em Ubaitaba - BA
Via: Diário de Camamu
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As PPPs podem ser aplicadas nas mais diversas áreas e setores públicos onde se façam necessárias. Caso tenha alguma sugestão, a página do Ribeirãotopia no Facebook está a disposição. Por isso a proposta ainda está aberta para novas adições ou modificações.

Ajude a divulgar esta ideia. Faça reuniões com sua associação de bairros, cobre de seu vereador, questione o prefeito. Ribeirão Preto precisa deste tipo de evolução.

Grato por acompanhar e até a próxima postagem!



Links para pesquisa
O que são Parcerias Público-Privadas (PPP)?
O que são parcerias público-privadas, as famosas PPPs?
Municípios encontram opção para revitalização em parcerias
Considerada apta para operar metrô de Salvador, empresa pode assumir obra no próximo mês
PPPs para a gestão de parques funcionam?
PPPs para iluminação pública com tecnologia Led nacional

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Mão única - rua Porto Seguro (entre Guaporé e São Francisco)

Um bom gestor de trânsito consegue acompanhar as demandas viárias de uma cidade. Cabe a ele fazer readequações e modificações de forma a trazer agilidade e segurança no trânsito. Algumas destas intervenções são relativamente simples e podem transformar para melhor (ou para pior caso os estudos tenham sido equivocados) toda a região onde ela é aplicada. 

No blog é possível acompanhar algumas propostas já publicadas aqui, aqui e aqui. Todas são modificações viárias que poderiam ser implantadas sem maiores esforços.

A região do conhecido Complexo do Ipiranga possui outros pontos que precisam de readequações. Um deles é o da rua Porto Seguro.

Diagramação - Rua Porto Seguro
Via: Google Maps



Esta importante via cruza e margeia vários bairros do entorno como Ipiranga, Vila Albertina, Jardim Presidente Dutra e Jardim Jandaia. Ela tem seu início na marginal da Via Norte e finaliza na avenida Rio Pardo. Grande parte dos lotes lindeiros são compostos por residências, apesar de ter pontos comerciais diversificados em locais específicos.

Entretanto a rua Porto Seguro possui um problema em relação quanto a sua largura. Em alguns pontos esta distancia pode variar entre 7,50 a 11 metros, obrigando em alguns casos que o motorista que estiver em uma das pistas tenha que esperar o veículo no sentido contrário passar. Lembrando que nos trechos abaixo da rua Rio Verde é rota de transporte coletivo (três linhas radiais e uma noturna). Para esta região será apresentada uma proposta para as próximas semanas.

O ponto problemático em questão, e tema da proposta desta semana, é o trecho da rua Porto Seguro entre as ruas Guaporé e São Francisco. A via é bastante estreita, sempre com veículos estacionados em ambos os lados e com um agravante: o trecho entre as ruas Américo Batista e São Francisco é comum a parada de caminhões que realizam carga e descarga no supermercado Mialich. Isso dificulta que dois veículos possam passar paralelamente ao mesmo tempo pela rua.

Diagramação - Rua Porto Seguro e arredores
Via: Google Maps
Outra questão importante são os cruzamentos da Porto Seguro com Américo Batista e mais adiante com a São Francisco. O motorista costuma ter muita dificuldade em visualizar os veículos que sobem pelas ruas preferenciais. No caso da Porto Seguro com São Francisco, o imóvel da esquina foi construído muito próximo à esquina, obrigando o motorista a parar o veículo quase no meio do cruzamento para poder aguardar o momento de travessia.

O cruzamento da Porto com a Américo também apresenta problema semelhante, neste caso para os veículos que vão sentido a Rio Pardo. Alem do motorista precisar avançar alem do cruzamento, as conversões a esquerda trazem um risco maior a todos.

Rua Porto Seguro, sentido Av. Rio Pardo.
Perceba a diferença na largura das vias à esquerda
Via: Google Street View
A pouca visibilidade obriga o motorista a avançar alem
da faixa de pedestres, fator este responsável por vários
acidentes no cruzamento.
Via: Google Street View
Em alguns horários é impossível que dois veículos
possam passar paralelamente.
Via: Google Street View
Cruzamento da Porto Seguro com Américo Batista.
Via: Google Street View
A situação ainda fica mais complexa com o grande fluxo de pedestres entre os cruzamentos, sobretudo no da Porto com São Francisco, já que bem próximo existe a EEPG Francisco Bonfim. Assim nos horários de entrada e saída de alunos, infelizmente é comum motoristas não respeitarem as faixas de segurança e ainda realizarem conversões perigosas em alta velocidade.

Na época um vereador eleito na administração anterior teria proposto um semáforo no cruzamento na Porto com São Francisco, alegando que o dispositivo traria mais segurança para todos. Assim como já afirmei no blog e page no Facebook, nem todos os problemas viários podem ser resolvidos com semáforos. Então qual seria a melhor opção?


Ideia utópica de hoje

A proposta seria transformar o trecho da rua Porto Seguro entre a São Francisco e Guatapará em mão única, sentido avenida Rio Pardo. Segue esquema abaixo:


As principais modificações seriam:

- Veículos na Porto Seguro sentido Rio Pardo: seguem normalmente e são alertados pelas placas A-25 - Mão dupla adiante e R-28 - Duplo sentido de circulação, alem da sinalização de solo correspondente.

- Veículos na Porto Seguro sentido Via Norte: seguem normalmente até o cruzamento com a Guaporé, onde serão alertados pela placa R-3 - Sentido proibido que estão impedidos de seguirem em frente. Podem ser utilizadas placas de Orientação de Destino auxiliando o motorista qual via seguir (neste caso o fluxo de veículos poderia ser direcionado para a rua Tocantins).

As vantagens na alteração:

1- Eliminação das conversões a esquerda em ambos os cruzamentos: essa mudança seria aplicada aos veículos que subissem a rua São Francisco e aos que descem a Américo Batista. Para melhorar a visualização dos motoristas no cruzamento com a Américo, seria proibido o estacionamento nesta esquina através de pintura de solo e sinalização vertical de Proibido Parar e Estacionar, melhorando a visualização dos veículos na via preferencial;

2- Redução nos riscos de acidentes: com a eliminação das conversões a esquerda, o número de pontos de conflito no cruzamento serão reduzidos, consequentemente reduzindo as chances de acidentes envolvendo motoristas e pedestres;

3- Direcionamento para vias mais calmas: o tráfego poderia ser direcionado para vias com trânsito quase que exclusivamente local, como a rua Tocantins por exemplo;

4- Melhor deslocamento do fluxo: com a redução no número de conversões, o transito irá fluir mais facilmente e reduzindo o tempo de espera nos cruzamentos.

Projeção - Visualização do motorista que descesse
a Américo Batista com alterações feitas.

Projeção - Visualização do motorista que seguisse pela Porto Seguro
sentido Via Norte com as alterações feitas.
Sugestões de acessos para as ruas São Francisco e
Américo Batista, com as alterações realizadas.
Por conta do fluxo maior de pedestres, outras medidas poderiam ser aplicadas como a instalação de lombadas ou mesmo lombofaixas nas imediações dos cruzamentos, que forçariam a redução de velocidade na região, alem do reforço de faixas de pedestres e placas alertando para sua presença. 

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São medidas simples que podem amenizar alguns dos problemas que vem acontecendo nos últimos anos. Toda mudança pode sofrer resistência e leva tempo para que todos possam se adaptar. Contudo elas sempre são necessárias para que todos possam conviver em harmonia e segurança.

Obrigado e até a próxima postagem!