Todas as cidades possuem essa região, independentemente da quantidade de habitantes, da idade do município ou da sua localização no mundo, afinal, foi a partir desse local que a cidade passou a existir. O que torna o Centro tão especial em comparação com as demais regiões da cidade é que foi justamente ali que ela "nasceu", cresceu e se desenvolveu. A primeira praça, a primeira igreja, o primeiro prédio comercial, os primeiros moradores. Pessoas que talvez nunca imaginassem que aquele amontoado de pequenos imóveis se tornaria, um dia, uma cidade.
A título de curiosidade, a primeira cidade a surgir no mundo foi Uruk, em meados de 3500 a.C., na antiga região da Mesopotâmia. Uruk já apresentava traços de urbanismo que são utilizados até hoje, como a divisão de bairros residenciais, comerciais e regiões de uso misto.
As cidades foram crescendo, novos bairros surgindo, e o Centro sempre foi sinônimo de comércio forte e diversidade cultural. Pelo menos nas cidades do interior de São Paulo, é comum usarmos a expressão "vamos à cidade" quando nos referimos ao Centro, mesmo estando dentro do município. Afinal, é nele que encontramos de tudo um pouco: comércio diversificado, boa comida, serviços públicos municipais e estaduais, entre outros.
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Uma região central pode ser bastante atrativa aos moradores caso ela ofereça boas opções de compras, serviços e atividades culturais.
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Saiba mais: Vida nova para o centro da cidade
Apesar de sua importância histórica e econômica, muitos Centros hoje são o retrato do abandono, descaso e decadência, atribuídos à falta de políticas públicas específicas que promovam sua preservação. Com isso, a região deixa de ser um local de convivência e torna-se uma mera zona de passagem, um caminho que percorremos quando estamos de carro ou ônibus.
Felizmente, nos últimos anos, grandes cidades passaram a criar leis e projetos com o intuito de preservar e revitalizar seus Centros. Fazem parte do processo de revitalização:
- Preservação do patrimônio histórico existente, como praças, monumentos e edifícios;
- Priorização do pedestre nos deslocamentos, através de calçadas adequadas e mobiliário urbano adaptado;
- Incentivo à criação de negócios únicos e exclusivos, seja por meio de comércio ou serviços, formando uma espécie de "marca registrada do Centro";
- Transformação de parte da região em local de moradia popular, através de iniciativas que permitam a construção de novos edifícios residenciais ou o aproveitamento dos que já existem.
Centro de Ribeirão e Quadrilátero Central
Praça XV, Teatro Pedro II, edifício Diederichsen, Palácio Rio Branco, Catedral Metropolitana, Praça da Bandeira, calçadão, choperia Pinguim, entre outros. Todos estes pontos turísticos vem na mente da maioria dos ribeirãopretanos quando perguntamos sobre o Centro.
Em um passado mais distante, a região popularmente conhecida como "baixada" era bem diferente, já que tivemos a antiga cervejaria Antárctica e até um pátio de manobras de locomotivas no local onde é hoje a Câmara Municipal. Para quem tem interessem em ver fotos antigas de como era Ribeirão nesta época, sugiro o grupo
Lembranças Ribeirãopretanas no Facebook.
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Região central, com destaques para a Praça XV, Teatro Pedro II edifício Diederichsen e a antiga rotunda (superior à esquerda) - Via: Arquivo Histórico
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Saiba mais: A lenda do chopeduto
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Centro de Ribeirão Preto nos dias de hoje. - Via: Revide |
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Da esquerda para direita: Pinguim, teatro Pedro II e Centro Cultural Palace, formando o chamado Quarteirão Paulista - Via: Olhar Turístico |
O aglomerado de quadras localizados entre as avenidas Jerônimo Gonçalves, Nove de Julho, Independência e Francisco Junqueira é chamado Quadrilátero Central. Dentro desta região também existem os chamados hipercentro e hipercentro expandido (próximos a praça XV) onde se concentram o fluxo mais ativo de pessoas nas ruas. Costuma-se dizer que o Centro é "uma cidade dentro de outra cidade" devido a variedade de produtos e serviços.
No hipercentro podemos encontrar lojas de produtos variados, vasta rede bancária, edifícios de serviço público, o calçadão e a prefeitura. Nas regiões mais ao sul do Centro predominam serviços como consultórios médicos, hospitais, escritórios, edifícios residenciais e o shopping Santa Úrsula.
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Disposição das regiões, conforme consta no
Plano de Mobilidade Urbana de Ribeirão Preto |
Saiba mais: Ribeirão Preto - Centro - Prédios Históricos, Ruas, Avenidas e Skyline!
Trata-se de uma região bastante forte, que, mesmo assim, vem sofrendo um processo de deterioração e grande desvalorização nos últimos anos. Os principais concorrentes do Centro são os shoppings centers (RibeirãoShopping, Shopping Santa Úrsula, Novo Shopping e Iguatemi Shopping) e o comércio local de grandes avenidas como Saudade e Dom Pedro I.
Nos shoppings, as pessoas encontram segurança e tranquilidade, enquanto no comércio local têm praticidade e preços mais acessíveis. E são esses itens que o Centro deixou de oferecer, afastando, assim, os clientes dia após dia. Outros fatores também "ajudaram" no abandono do Centro:
- Falta de variedade no comércio: grandes marcas como Marisa, C&A, McDonald's, Ponto Frio e Extra fecharam suas unidades no Centro a muitos anos. Hoje, predominam as lojas do tipo 1,99 e de presentes importados chineses;
- Dificuldades para dirigir e estacionar: falta de fiscalização da Área Azul (permitindo que veículos permaneçam estacionados além do permitido) e sinalização ineficiente e confusa;
- Calçadas mal conservadas: desníveis, buracos, mobiliário inadequado;
- Abandono de prédios antigos: fechados e servindo de abrigo para moradores de rua. Isso quando o prédio não é demolido para a construção de um estacionamento;
- Falta de acessibilidade: rampas para cadeirantes completamente fora das normas, ausência de piso tátil para cegos;
- Sensação de insegurança: furtos e roubos, mesmo com a presença de câmeras de segurança.
Todos esses itens fazem com que o Centro deixe de ser uma opção para compras ou lazer. São muitas as lojas que fecharam as portas no quadrilátero central, e outras pensam também em deixar a região. E quais são os motivos para esse abandono?
- Obras intermináveis do Calçadão: as obras, que iniciaram em 2012, se arrastaram por longos 4 (quatro) anos, sempre com promessas de terminarem em prazos que foram constantemente alterados. São tantas notícias referentes aos atrasos que elas estão concentradas nesta busca do Google. Muitas lojas deixaram o Centro por conta desses atrasos, e as que ficaram arcaram com prejuízos em datas em que o comércio mais vende, como Dia das Mães e Natal;
- Mobilidade difícil e prejudicada: dirigir pelo Centro é um verdadeiro teste de paciência. As ruas não seguem uma padronização que facilite o deslocamento. Aliados a isso, temos os inúmeros buracos espalhados pelas vias, prejudicando o trânsito e provocando acidentes. A falta de vagas para estacionar também é um problema constante;
- Insegurança: apesar do projeto Olhos de Águia ser bem-sucedido, moradores sentem um clima de insegurança na região central e muitos até a evitam no horário noturno. Furtos, assaltos e roubos de carros são as ocorrências mais relatadas pelas vítimas;
- Fechamento do comércio: é fato que a crise nacional "ajudou" para que muitos estabelecimentos deixassem de existir, mas a falta de incentivos para o comércio fez com que cada vez mais lojas deixassem o Centro. O resultado são muitos anúncios de "Vende-se" espalhados pelas ruas daquela região.
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Clientes em meio a obras e entulho nas obras do Calçadão de Ribeirão Preto - Via: G1 |
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Trânsito carregado na Barão do Amazonas - Via: Folha |
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Buraco em trecho da avenida Jerônimo Gonçalves no começo de 2020 - Via: Grupo Thathi |
Saiba mais: Comerciantes e moradores debatem melhorias para o Centro
Tentativas de revitalização
Não é de hoje que tentam trazer a revitalização para o Centro de Ribeirão. O projeto
Vale dos Rios, anunciado na gestão do prefeito Antônio Palocci (2000-2002) tinha o objetivo de construir uma ponte estaiada que ligaria a alameda Botafogo até a rua Lafaiete, alem a construção de um terminal urbano de ônibus sob a ponte.
O projeto foi visto com desconfiança e estranheza e, por conta de diversos fatores, a ideia nunca saiu do papel, ficando apenas uma maquete desenvolvida na época. Hoje é visível que a ponte seria bastante útil nos dias de hoje, visto o pesado trânsito na região nos horários de pico.
A ponte foi apenas um exemplo. Desde então, são apresentados projetos de revitalização do Centro, alguns bastante importantes e outros digamos, extravagantes como um que prevê a ligação de um
teleférico do Centro até a USP. O jornal A Cidade e a revista
Revide tem insistido bastante na questão do Centro, entrevistando especialistas e cobrando do poder público tais mudanças necessárias. Recentemente o IPCCIC (Instituto Paulista de Cidade Criativas) também entrou em
defesa do Centro, lançando propostas para sua revitalização.
Em 2012, a prefeitura anunciou um novo projeto de revitalização do Centro, onde previa a revitalização do Calçadão e sua extensão até a avenida Jerônimo Gonçalves, alem de toda a instalação de mobiliário urbano adequado como bancos, lixeiras, postes em LED e fiação subterrânea. Na época que esta publicação foi postada, as obras estavam em sua fase final de conclusão (considerando que elas iniciaram-se em 2012).
O mais curioso é que o projeto chegou a ganhar um prêmio de
melhor projeto de urbanismo em 2012, mesmo com várias alterações realizadas ao longo das obras, ficando completamente diferente da proposta original.
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Revitalização do Calçadão de Ribeirão - Foto via: BOL |
Nota RT: Apesar de muitas reuniões entre comerciantes e poder público, o resultado prático é muito pouco. Muita conversa sem nenhum comprometimento com datas e atitudes. Os comerciantes que deveriam exigir mais da prefeitura e são a maior parte interessada, preferem ficar calados; a prefeitura não se compromete com suas promessas e empurra o assunto com a barriga; os vereadores fazem vista grossa e quase não se manifestam. Ou seja, todos estão ajudando a matar o Centro aos poucos.
A desistência da construção do Buriti Shopping foi mais uma prova de como o ambiente de negócios ribeiãopretano é difícil. Ou o Centro de reinventa agora, ou o morrerá em definitivo com a expansão comercial nas demais regiões da cidade.
Outras grandes mudanças recentes seriam a modernização do sistema de Área Azul, a entrega dos corredores de ônibus e a discussão sobre onde deveria ser o novo Centro Administrativo da cidade. Por isso, mais do que nunca esta proposta publicada em 2016 ainda se faz muito necessária.
Ideia utópica de hoje
Observação: algumas das ideias propostas na época foram aceitas ao longo dos anos, porem manteremos na lista para fins de registro.
Esta é uma proposta complexa. Reunimos o máximo de informação sobre o assunto e suas fontes. Mesmo não tendo formação em arquitetura e urbanismo, acredito que os pontos a seguir poder servir como norte para que possa se tornar algo real, sem ufanismos e surrealismos. Dividimos as sugestões em quatro tópicos:
- Mobilidade urbana
- Comercio e serviços
- Mobiliário urbano
- Patrimônio histórico
E estes quatro tópicos são subdivididos em sub-tópicos:
- Mobilidade urbana
- Pavimentação diferenciada (asfalto e paralelepípedos)
- Regularização da Área Azul
- Faixas exclusivas para ônibus
- Fiscalização de transito
- Implantação de ciclovias
- Zona 30
- Sistema Cross-docking
- Edifícios garagem
- Calçadas adaptadas
- Comércio local
- Criação de ruas exclusivas
- Marcas e comidas típicas do Centro
- Maior diversidade de lojas e marcas famosas
- Resgate da região da "baixada"
- Revitalização do Mercadão Municipal
- Mobiliário urbano
- Placas de logradouros diferenciadas
- Bancos e lixeiras adequadas
- Fiação subterrânea
- Placas de orientação
- Vagas vivas (parklets)
- Programa de arborização
- Patrimônio histórico
- Restauração de antigos casarões
- Regras rígidas para novas construções e reformas
- Proibição de demolição de prédios históricos
Estes itens são os mais urgentes a serem discutidos para um bom processo de revitalização. Nada impede que alguns destes sejam aplicados em outras regiões da cidade ou que novos sejam acrescentados.
1- Mobilidade Urbana
São muitas pessoas que necessitam passar pela região central, seja de carro, ônibus, motocicleta, bicicleta e a pé. Organizar este tráfego é fundamental para o bom funcionamento das ruas do Centro.
1.1- Pavimentação diferenciada (asfalto e paralelepípedos)
As ruas do Centro tem uma peculiaridade em comparação com as do restante da cidade: todas possuem paralelepípedos. Digo possuem pois eles ainda estão no pavimento, debaixo de uma ou duas camadas de asfalto. É possível ver uma espécie de "sanduíche" formado pelas camadas de asfalto e os paralelepípedos. O resultado disso são sarjetas com grandes vãos, o que torna perigosa a travessia de pedestres (principalmente usuários de cadeira de rodas) e risco de danificar veículos que passarem próximos ao meio fio.
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Cruzamento aberto na Barão com General Osório. É possível ver nitidamente as camadas de paralelepípedo e asfalto - Via: acervo pessoal |
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Desgaste no asfalto, deslocando a massa para o meio fio e deixando os paralelepípedos a mostra - Via: acervo pessoal |
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Buraco na Florêncio de Abreu causado por vazamento de água e constante passagem de ônibus - Via: acervo pessoal |
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Trecho onde é possível ver o "sanduíche" de duas camadas de asfalto e paralelepípedo - Via: acervo pessoal |
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Trecho da Marcondes Salgado, com um grande espaço entre o asfalto e o meio fio - Via: acervo pessoal |
A única solução, a mais radical inclusive, seria a remoção do asfalto e refazer o processo de pavimentação de acordo com o tipo de tráfego que a via suporta e recebe. Entre as ideias estão até a volta dos paralelepípedos. Pode parecer retrocesso, já que o asfalto sempre foi visto como simbolo de modernidade e avanço. Mas acredite, os
paralelepípedos possuem vantagens e precisamos quebrar esta espécie de "preconceito" sobre eles:
- São ecologicamente corretos, pois permitem a absorção de água, ajudam a recarregar os lençóis freáticos e reduzem o risco de enchentes;
- Diminuem a sensação térmica do ambiente;
- Manutenção mais rápida e barata em comparação com o asfalto;
- Tempo de vida útil maior em comparação com o asfalto;
- Redutor de velocidade natural da via.
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Rua de paralelepípedo em Suzano - SP - Via: Youtube |
O esquema abaixo de corte simplificado:
- Via "sanduíche": presente em todas as ruas do Centro, principalmente em corredores de ônibus.
- Via com paralelepípedos: o asfalto é removido e reaproveitado para a pavimentação de outras vias, mantendo apenas o antigo piso de paralelepípedos. São adequados para as ruas que possuem estacionamento em ambos os lados, ou seja, trafego mais lento. Exemplos: rua Marcondes Salgado, Sete de Setembro e Mariana Junqueira;
- Vias com asfalto reforçado: o asfalto e os paralelepípedos são removidos, assim a camada de terra e brita serão novamente compactados (e verificados vazamentos de água e esgoto que possam existir) e assim adicionada uma nova camada de asfalto devidamente compactada. Adequada para vias que possuam duas faixas de rolamento com ou sem estacionamento em um dos lados. Exemplos: Rua Saldanha Marinho, Visconde de Inhaúma e Bernardino de Campos;
- Vias com concreto armado: mesmos procedimentos do asfalto reforçado, a diferença é que entre o solo e o asfalto será colocado uma camada de concreto armado, que irá ajudar a absorver o impacto causado pelos veículos. Esta solução foi discutida inclusive pela secretaria de obras do município para ser aplicada nas ruas do entorno da Catedral de Ribeirão, que receberão cinco estações de pré-embarque do transporte coletivo. O piso de concreto poderia ser usado também nos pontos de parada dos coletivos na região central e principais avenidas.
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Corte esquemático das alternativas para o pavimento do Centro de Ribeirão Preto
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1.2- Regularização da Área Azul
Nas últimas semanas, a
Área Azul teve
aumento de preços, teve liminar
impedindo o aumento e chegou a ser
suspensa a cobrança de estacionamento nas áreas existentes. Apesar de parecer atrativo não termos que pagar para estacionar nosso carro no Centro, a falta de rotatividade das vagas pode prejudicar ainda mais o comércio.
Com o rotativo, um motorista pode deixar seu veículo pagando 3 reais por até duas horas; terminado o período o motorista deve deixar a vaga ou renovar por mais duas horas. Sem a rotatividade, este mesmo veículo pode ficar parado na vaga o dia todo, incentivando inclusive que comerciantes e funcionários mantenham seus carros nestas mesmas vagas, deixando o cliente sem opção para estacionar.
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Veículos estacionados em rua no Centro de Ribeirão
Foto via: G1 |
Como alternativas seguem:
- Criação de lei que regulamenta de vez o serviço de Área Azul na cidade;
- Estipular preço com base nos custos operacionais envolvidos (fiscais, impressão de talões, hora/vaga);
- Demarcação de solo separando as vagas disponíveis para estacionamento;
- Intensificar a fiscalização, evitando fraudes na venda de bilhetes e autuar motoristas que fiquem alem do tempo estipulado.
1.3- Faixa exclusiva para ônibus
As faixas preferenciais implantadas (proposta já
debatida em setembro de 2015) se mostraram ineficientes perante a falta de fiscalização e desrespeito dos motoristas. Alem disso, o asfalto não preparado acabou se danificando mesmo com um recape recém realizado na região.
Apesar de muitas pessoas defenderem a remoção de linhas de ônibus na região do Quadrilátero Central, eu não consigo ver esta proposta como solução a curto prazo. No momento, as ruas que recebem maior número de linhas como Américo Brasiliense, Barão do Amazonas e Florêncio de Abreu, deveriam ter faixas de ônibus exclusivas de acordo com dia e horário. Dispositivos como radares e a presença de agente de transito evitariam as invasões na faixa.
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Placa indicando dias e horários da faixa exclusiva em SP - Via: Vá de Trólebus |
1.4- Fiscalização de trânsito
Falando em fiscalização, ela é praticamente inexistente no Centro de Ribeirão. Muitos motoristas se aproveitam disso para cometerem infrações como avanço de sinal vermelho,
desrespeito ao pedestre, estacionamento proibido entre outros.
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Alem de estarem pouco presentes no Centro, alguns marronzinhos também acabam cometendo infrações - Foto via: G1 |
Um programa de monitoramento próprio para o Centro, onde através de uma central de tráfego, possam ver o trânsito em tempo real e tomar medidas rápidas em casos de acidentes ou mesmo punir infratores. A proposta da criação da
CET Ribeirãopretana seria perfeitamente adequada para esta situação.
1.5- Implantação de ciclovias
O
Plano Cicloviário de Ribeirão Preto (previsto desde 2007 e nunca implantado) prevê a instalação de ciclovias e ciclofaixas também no quadrilátero central. Sugestão esta que foi citada no
Plano de Mobilidade Urbana e que ajudaria no deslocamento interno do Centro, incentivando que funcionários e clientes possam chegar aos seus destinos de forma rápida e segura.
1.6- Zona 30
Por ser uma região com grande concentração de pedestres, a segurança a eles é direito garantido perante o Código de Trânsito Brasileiro. Mesmo assim, é comum ver carros e motocicletas em limites bem acima do permitido em ruas como Duque de Caxias e Florêncio de Abreu. Por isso uma alternativa seria a criação das chamadas Zonas 30.
Saiba mais:
Comuns na Europa, Zonas 30 começam a surgir no Brasil
As Zonas 30, como o nome diz, são ruas onde o limite máximo de velocidade passa a ser de 30 km/h, ou em casos de Curitiba,
zonas de 40 km/h. Muitos motoristas podem não concordar com esta ideia, mas se formos considerar que o transito excessivo no Centro evita que maiores velocidades sejam desenvolvidas, a proposta passa a ser melhor aceita. As Zonas 30 poderiam ser implantadas nas ruas do chamado hipercentro ou mesmo nas que tiverem pavimentação com paralelepípedo.
1.7- Sistema Cross-docking
Algumas vias no Centro possuem restrição à circulação de veículos pesados de carga, mas devido a falta de fiscalização, é possível ver caminhões circulando em ruas fora do horário permitido. Uma ideia a ser discutida seria a permissão apenas de veículos do tipo VUC (Veículos Urbanos de Carga) na região do hipercentro ou mesmo no centro expandido.
Isso permitiria que as lojas continuasse a receber seus produtos em horário comercial e sem prejudicar o trânsito. Para agilizar o sistema de entregas, seria criada uma área de carga e descarga chamado
Cross-docking. O
Cross-docking é um sistema onde o produto é recebido em uma dependência e logo separado para outros caminhões menores, evitando a formação de estoques, assim liberando os VUCs em seguida para suas entregas nas lojas do Centro.
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Esquema simplificado de um sistema Cross docking - Via: Portogente |
1.8- Edifícios garagem
Proposta apresentada no blog em
agosto de 2015. São edifícios de quatro ou cinco pavimentos adaptados para receberem uma quantidade planejada de carros. Podem ser de propriedade da prefeitura (atuando como uma espécie de Área Azul vertical) ou em parceria com estacionamentos do Centro.
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Projeção criada para a proposta em 2015, comparando um edifício garagem com um estacionamento convencional |
1.9 - Calçadas adaptadas
A calçada em si precisa ser construída dentro das normas de acessibilidade com rampas, piso tátil, balizadores e até mesmo com decoração adequada como floreiras e postes com iluminação em led. Todo este conjunto trás harmonia, beleza e funcionalidade ao Centro, atraindo novos clientes e turistas. As quatro sugestões abaixo estão presentes no Plano de Mobilidade Urbana de Ribeirão Preto.
2 - Comércio local
A grande variedade de comércios e serviços no Centro obriga a criação de estratégias próprias para atrair clientes e turistas.
2.1- Criação de ruas exclusivas
Elas já existem no Centro, mas precisam se firmarem como referência naquilo que oferecem. Decoração personalizada, promoções exclusivas, programas de fidelização de clientes entre outras estratégias, podem fazer com que estas lojas sejam bastante procuradas pelos clientes. Alguns exemplos de ruas já consagradas;
- Barão do Amazonas: comércio de roupas e boutiques;
- José Bonifácio: comércio de componentes eletrônicos e autopeças;
- Rua Saldanha Marinho: lojas de moveis e utensílios domésticos;
- General Osório (calçadão): variedade de lojas de departamentos, calçados e presentes;
- Mercadão Municipal: variedades de "secos e molhados" como queijos, grãos, objetos em couro e presentes em geral.
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Calçadão de Ribeirão Preto no natal de 2019 - Via: Acervo pessoal |
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Rua Barão do Amazonas, centro de Ribeirão Preto decorada para o natal de 2019 - Via: Acervo pessoal |
Estas nomeações já existem, mas o que falta é uma espécie de oficialização. Por exemplo, as calçadas da Barão costumam ter tapetes vermelhos e bancos durante o mês de dezembro por conta do período natalino. Criar este tipo de identidade para uma rua ou região pode fazer uma grande diferença na atração de clientes.
2.2- Marcas e comidas típicas do Centro
Muitas cidades são conhecidas e tornam-se referencia dependendo do produto que comercializa. Sejam as
coxinhas de Bueno de Andrada, o
sanduíche de mortadela do mercadão de São Paulo ou os
bordados de Ibitinga, toda cidade possui uma marca para agregar valor. No caso de Ribeirão, temos o
chope do Pinguim e o surgimento de
cervejarias artesanais. O Centro poderia criar uma marca única, seja com um produto ou alguma refeição/petisco que faça com que as pessoas tenham interesse em consumir e fazer esta novidade virar uma tradição para a cidade.
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Cervejaria Colorado em Ribeirão Preto - Via: G1 |
Mesmo que a cidade ou mesmo o Centro não tenha tradição em algo, é possível desenvolver algo novo. Um exemplo é a cidade de Tabatinga - SP, que para não ficar sempre a sombra da vizinha Ibitinga (capital do bordado), decidiu se tornar referencia em algum produto, e o escolhido foram bichos de pelúcia.
Moradores tiveram que aprender do zero como costurar e confeccionar as pelúcias e hoje a cidade é
capital nacional do bicho de pelúcia. A criação de um produto originário do Centro, agregaria valor a região e incentivaria os produtores locais.
2.3- Maior diversidade de lojas e marcas famosas
Na década de 80 e 90, era comum encontrarmos lojas de grandes marcas como Ponto Frio, C&A, McDonalds, rede Extra entre outras. Com os atrasos nas obras do calçadão e redução na quantidade de clientes, muitas destas lojas deixaram o Centro. Como consequência, muitos comerciantes asiáticos tornaram-se donos de grande parte destes imóveis, que mais tarde tornaram-se lojas de armarinhos e presentes importados.
A volta destas grandes marcas ao Centro, precisamente ao calçadão, dariam maior variedade de compras e fortaleceriam o comercio, transformando-o novamente em um "shopping a céu aberto".
2.4- Resgate da região da "baixada".
Simbolo do início do desenvolvimento da cidade, hoje a região entre as ruas José Bonifácio, Florêncio de Abreu, avenida Jerônimo Gonçalves e Visconde do Rio Branco sofre um processo de decadência ainda maior que o próprio Centro, tanto que o nome "baixada" já nos remete a algo depreciativo e sem valor. Cortiços, casa de prostituição, trafico de drogas e moradores de rua compõe o cenário.
A região ainda conta com a rodoviária e o Centro Popular de Compras (ou CPC).
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Mercadão na região conhecida como "baixada" - Via: Folha |
Revitalizar esta área vai alem de infraestrutura, pois envolve um trabalho de âmbito social complexo. Descobrir como a região chegou a este ponto e o que fazer para reverter o quadro. Tanto que o problema já foi discutido várias vezes e até hoje se chegou pouco a um consenso. A construção e adaptação de
moradias populares e o
restauro de edifícios como o antigo
Hotel Brasil podem trazer desenvolvimento a região.
2.5- Revitalização do Mercadão Municipal
Toda cidade possui um mercado municipal, onde é possível encontrar produtos que não costumam estar a venda na maioria dos supermercados como queijos e doces artesanais, artigos de couro, vestimentas, grãos diversos, entre outros. O de Ribeirão não é diferente; localizado na avenida Jerônimo Gonçalves próximo a Rodoviária e ao lado do Centro Popular de Compras, o mercadão atrai pessoas de toda a cidade e região.
O que poucos sabem é que o primeiro mercadão foi destruído por um incêndio em 1942, obrigando os comerciantes a montarem barracas na margem da avenida. Em 1958 foi entregue um novo prédio, no mesmo local e que permanece até hoje. Por isso a revitalização do mercadão é muito importante, mantendo a antiga arquitetura e implantando novas tecnologias como
telhas de controle térmico e acústico, sistemas de captação de água das chuvas e placas para captação de energia solar.
3 - Mobiliário urbano
Bancos, mesas, postes, paisagismo, placas e outros elementos compõem o chamado
mobiliário urbano de uma cidade. Sempre defendi no blog uma padronização destes equipamentos, principalmente na região central.
3.1- Placas de logradouros diferenciadas
Foi a
primeira proposta apresentada no blog em 2015. Placas coloridas instaladas conforme a região da cidade (norte, sul, leste, oeste e central). No Centro existe uma grande dificuldade de saber em qual rua estamos. No projeto, as placas específicas para o Centro teriam cores mais neutras e grafismo mais clássico sem deixar de ser prático.
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Projeção de placas modelo 1 para zona central, rua Florêncio de Abreu e Visconde de Inhaúma
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3.2- Bancos e lixeiras adequadas
É comum encontrarmos em praças tambores de ferro de 200L cortados ao meio e servindo como lixeiras. Para a região do Centro isso é algo inaceitável do ponto de vista estético. As lixeiras colocadas no calçadão dividiram opiniões sobre sua praticidade. Por isso é fundamental um modelo que seja prático e ao mesmo tempo que combine com a arquitetura do local. E principalmente, que o recolhimento de lixo seja realizado.
Já os bancos devem se concentrar nas regiões do hipercentro, trazendo mais conforto para seus frequentadores.
3.3- Fiação subterrânea
Ideia já mencionada na proposta de
Readequação de Avenidas. Quem passou pelo calçadão nos últimos meses, notou uma grande melhora visual com a remoção da fiação aérea. Os benefícios de um sistema de fiação subterrânea (alem de reduzir a poluição visual) são: trazem maior visibilidade as fachadas das lojas, valoriza a arquitetura antiga, reduz os gastos com manutenção e
elimina o risco de incêndios.
A princípio apenas a região do hipercentro teria seus fios aterrados, o que não impede que todo quadrilátero central também os tenha. Alguns exemplos de como algumas ruas do Centro ficariam sem fiação aparente.
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Projeção de trecho da São Sebastião com e sem fiação |
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Projeção das esquinas da São Sebastião com Barão do Amazonas com e sem fiação |
3.4- Placas de orientação
Nos últimos anos a prefeitura tem investido em placas apenas com informações sobre pontos turísticos da cidade. Elas são importantes, mas não são suficientes. Placas que indiquem bairros, regiões e prédios de interesse público ajudam motoristas e pedestres a se deslocarem pelo Centro.
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Placa de orientação turística mas sem orientações de destino confundem os motoristas
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Não apenas placas de destino e orientação para veículos, mas placas menores para pedestres também podem ser instaladas. Informações como quanto tempo a pessoa demora para chegar a pé ajudam o pedestre a decidir se devem ir até este local caminhando ou se deve pegar um ônibus por exemplo.
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Placas de orientação para pedestres em Porto Alegre - RS - Via: ArchDaily |
3.5- Vagas vivas (parklets)
As
Vagas Vivas são ocupações temporárias de vagas de estacionamento, que se transformam em locais de convivência e lazer. São um pequeno espaço onde o pedestre pode descansar, conversar, marcar encontros, enfim, um pequeno espaço verde em meio a tantos prédios e congestionamentos na via.
Novamente ruas com maior concentração de pedestres como São Sebastião e Amador Bueno podem ter algumas destas vagas vivas instaladas, uma vez que são estruturas que podem ser desmontadas depois do uso.
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Vaga Viva instalada em São Paulo - Via: Vá de Bike |
3.6- Programa de arborização
Finalizando o processo de mobiliário urbano, não podemos nos esquecer das árvores. Elas que ajudam a diminuir a sensação térmica, melhoram a umidade do ar, e embelezam os passeios. Arvores como a Quaresmeira, Ipê, e Jacarandá são algumas que são próprias para o
plantio em calçadas.
4 - Patrimônio histórico
Toda cidade precisa preservar suas memórias, e as antigas construções no Centro ajudam nesta preservação. Sua arquitetura e importância para a época devem ser respeitados.
4.1- Restauração de antigos casarões
Este seria o ponto mais obvio, mas também o mais complexo. Muitos destes imóveis estão em posse da antiga família e as negociações para que eles sejam doados ao município costuma ser bastante burocráticas e problemáticas. Ambas as partes precisam chegar a um acordo de forma que todos saiam ganhando (a permuta de terrenos é um dos caminhos por exemplo). Somente depois disso que podemos pensar na restauração em si.
Por não se tratarem de construções convencionais, apenas equipes especializadas devem realizar a restauração destes imóveis, fazendo levantamentos sobre quais os materiais usados na época e como aplica-los na obra. Por exemplo: pintar uma parede onde antes existia um
afresco com uma tinta tradicional sem saber se ele pode ser recuperado.
Saiba mais: Um futuro para o descaso
O casarão Camilo de Matos é o mais conhecido e discutido pelo fato de estar ao lado da Praça XV, coração da cidade. Outros também precisam passar pelo processo de restauro como o
casarão da Caramuru, o
Hotel Brasil e muitos outros presentes na região da baixada. O processo de restauro deve ser realizado o quanto antes, para evitar que parte da história se perca nas mãos da especulação imobiliária.
4.2- Regras rígidas para novas construções e reformas
Devido a falta de fiscalização e atenção do poder público, antigos casarões são demolidos e transformados em estacionamentos. Um exemplo revoltante é um destes estacionamentos que foi construído nas esquinas da José Bonifácio com Duque de Caxias; ali existia nada mais do que um dos prédios mais antigos da cidade. E foi demolido sem nenhuma dificuldade ou empecilho .
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Atual estacionamento onde antes existia um dos mais antigos prédios do Centro de Ribeirão
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Para evitar tais crimes contra o patrimônio, é necessário a criação de regras rígidas para construções e reformas de prédios antigos na região Central, algo diferente do restante da cidade. Um exemplo de preservação é o trabalho de restauro que vem sendo realizado no antigo palacete Jorge Lobato, localizado nas esquinas da Alvares Cabral com Florêncio de Abreu.
Adquirido por uma família de arquitetos e engenheiros, o palacete está sendo restaurado e tão logo esteja pronto, será aberto ao público e com estudos para a implantação de um Café Restaurante no local.
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Casarão adquirido pelos irmãos Héctor e Ingrid Sominami - Via: G1 |
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Casarão entregue em 2017 - Via: Folha |
Outro exemplo de imóvel antigo que mantem seu estado atual de preservação é a
biblioteca Altino Arantes (atualmente renomeada para Sinhá Junqueira), que por ironia do destino, fica bastante próxima ao abandonado casarão Camilo de Matos.
Vale lembrar que a ideia de preservação e revitalização se trata dos imóveis da região mais próxima ao calçadão e região da baixada. Novas construções ainda podem surgir no "alto centro" desde que se atentem as regras do plano diretor.
4.3- Proibição de demolição de prédios dados como tombados
Esta ideia precisa ser enfatizada e destacada. Alguns dos casarões estão em estado tão precário, que sem nenhum estudo são postos a chão. A demolição só aconteceria em casos extremos onde a segurança de pedestres possa ser comprometida. Fora isso, nenhum imóvel dado como tombado deve ser derrubado. Um que está nesta situação e precisa de intervenção urgente é o
palacete Albino de Camargo Neto, na rua Visconde de Inhaúma.
Atualização 20/10/2024: a justiça teria ordenado a restauração do palacete Albino de Camargo, porem o imóvel está em uma situação ainda pior do que a foto publicada na época.
As regras de preservação do patrimônio histórico parecem redundantes, mas são importantes para que o morador de Ribeirão entenda a sua importância. Não é por que precisamos modernizar o Centro que vamos derrubar todo o passado não é mesmo?
Conclusão
Se você caro leitor chegou até aqui, talvez exista mesmo chance de salvarmos a região central e manter sua preservação. Está foi a proposta mais longa publicada no blog, onde citei meus pontos de vista acompanhados de reportagens relacionadas.
Ribeirão Preto completou 160 anos no domingo dia 19 de Junho. Talvez não temos muito o que comemorar devido ao estado atual que a cidade se encontra, com uma prefeitura omissa e uma câmara de vereadores desacreditada. Mas devemos ver esta data com reflexão, e discutir que cidade nós queremos para nossos filhos e netos. Uma cidade que construa o futuro sem deixar de lado o passado e trabalhando no presente.
Ajudem a compartilhar a postagem! Façam ela chegar a todos os interessados. Multiplique esta ideia.
Obrigado pela audiência e nos vemos em uma próxima publicação.
Links para pesquisa
Artigo editado com a ajuda de IA (GPT-3.5)
Parabéns pelo conteúdo postado, estará contribuindo muito para meus estudos de TCC de Arquitetura e Urbanismo.
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