A medida que nossas cidades vão crescendo, cresce também a necessidade das pessoas de se deslocarem por elas. Estamos aprendendo da pior maneira que nem todas nossas atividades urbanas são possíveis de serem realizadas com o uso do automóvel, portanto cabe aos gestores públicos e especialistas em mobilidade urbana elaborarem formas alternativas para o deslocamento das pessoas. Alem do transporte público, as bicicletas também tem sido apontadas como boas opções.
Cidades como Amsterdã (Holanda) e Copenhague (Dinamarca) podem ser consideradas exemplos quando o assunto é respeito ao ciclista, por sua extensa rede cicloviária disponível e campanhas intensivas que privilegiam a bicicleta no trânsito destas cidades. No Brasil ainda temos muito trabalho para convencer as pessoas que a bicicleta pode ser uma alternativa viável de transporte de curta a média distância.
Uma das formas disponíveis para incentivar ainda mais o uso da bicicleta nas cidades são os sistemas chamados Bike Share, ou traduzindo, programa de bicicletas compartilhadas.
Posto de Bike Share em Lisboa, Portugal. Via: MTB Brasília |
Estação Bike Share em Miami - EUA Via: O Globo |
O bike share é um sistema de compartilhamento de bicicletas públicas, onde qualquer usuário (mediante cadastro) pode alugar uma bicicleta e utiliza-la seja para trabalho, estudos, lazer ou quaisquer outras atividades dentro da cidade.
O primeiro sistema de bike share foi criado em Amsterdã em 1965 e sua ideia era ainda mais simples; bicicletas eram disponibilizadas para qualquer pessoa que quisesse usa-las, sem a necessidade de pagamento ou cadastro. Infelizmente mesmo para os padrões europeus, o sistema não funcionou por muito tempo devido aos constantes furtos, roubos e danos às bicicletas. Apenas a partir do ano 2000 que o sistema de compartilhamento de bicicletas começou a ser implantado de maneira mais organizada e funcional. Segundo o Bike Share Map, são mais de 19 mil estações espalhadas em 149 países ao redor do mundo.
Sistema implantado em Chicago - EUA Foto via: itdp.org |
Alguns dos conceitos do sistema bike share são:
- Diminuir o número de carros nas vias: grande parte dos veículo que circulam pelas ruas e avenidas são de pessoas que o utilizam apenas como meio de deslocamento entre casa e trabalho, e vice-versa. O sistema de compartilhamento de bicicletas pode incentivar que parte destes motoristas utilizem a bike em seus deslocamentos casa-trabalho, deixando o trânsito livre para as demais viagens que realmente sejam necessárias;
- Integração com o transporte público: muitas bike shares são instaladas nos arredores de estações de ônibus, trens ou metrôs. Desta forma a bicicleta compartilhada serve como meio de deslocamento entre o transporte público e o ponto de interesse do usuário. Normalmente grandes polos geradores de tráfego como shoppings, hospitais ou faculdades também possuem estações de bicicleta;
- Incentivar o uso da bicicleta: seja para trabalho, estudos ou lazer, as estações de compartilhamento funcionam como incentivo para que mais pessoas as utilizem e descubram as vantagens de incluir a bicicleta em sua rotina. Vantagens estas que podem ser econômicas (custo zero com combustível e manutenção de um veículo), para a saúde (redução no risco de doenças e problemas com obesidade) e ambientais (diminuição da poluição atmosférica e sonora).
Estação Bike Rio ao lado do Terminal Alvorada Foto via: Diário do Transporte Coletivo RJ |
Bicicletas compartilhadas no Brasil
Capitais como São Paulo (Bike Sampa), Rio de Janeiro (Bike Rio) e Porto Alegre (Bike Poa) foram as primeiras a implantarem o sistema de bike share no Brasil. Ao poucos cidades como Sorocaba, Santos e Recife também tiveram seus próprios sistemas, todos funcionando de forma parecida:
- O usuário deve baixar o aplicativo correspondente em seu celular e realizar um cadastro no sistema (em alguns casos é possível realizar o cadastro via site);
- Pelo mesmo aplicativo (ou número de telefone) o usuário informa o número do bicicletário e a posição que a bicicleta está posicionada.
- Confirmando a operação, a bicicleta fica disponível para o usuário;
- O sistema de aluguel é cobrado por hora, mas na maior parte dos bike share a primeira hora é gratuita;
- Todos as estações possuem horário de funcionamento (no caso do Bike Sampa, das 6:00 as 22:00).
Estação Bike Sampa Foto via: Eu vou de Bike |
Estação Bike Rio Foto via: Mobilize |
As bicicletas utilizadas possuem um design tipicamente urbano e são bastante semelhantes entre os bike share existentes; todas possuem selins maiores, proteção para corrente, barra de apoio mais baixa (para facilitar o acesso de pessoas mais baixas ou mulheres que estejam usando saia ou vestido), bagageiro e cesto frontal, alem dos equipamentos de segurança como refletores dianteiros, traseiros e laterais. Por questão de marketing, também possuem espaço junto a roda traseira para publicidade da empresa parceira.
Sobre as parcerias, elas são muito importantes para o funcionamento contínuo do sistema. Em São Paulo por exemplo, é comum encontrarmos as bicicletas chamadas de "laranjinhas" que são patrocinadas pelo banco Itaú e outras na cor vermelha patrocinadas pelo banco Bradesco. As cores podem variar de acordo com o patrocinador envolvido no projeto.
Ilustração demonstrando o funcionamento do Bike Poa Foto via: Prefeitura de Porto Alegre |
Apesar do padrão citado acima, foram criadas derivações do sistema tradicional como o compartilhamento de bicicletas infantis de Santos ou mesmo o sistema que utiliza bicicletas 100% elétricas de São Luiz de Paraitinga.
Crianças utilizando bikes compartilhadas Foto via: Vá de Bike |
Sistema de compartilhamento para bicicletas elétricas Via: Hypennes |
Infelizmente o sistema não é perfeito. Se em países como Holanda o sistema apresentou problemas iniciais, no Brasil não seria diferente. Problemas como falta de patrocinadores, ausência de manutenção nas bicicletas, falta de divulgação, planejamento inadequado e casos de furtos e vandalismos fazem com que alguns sistemas apresentem dificuldades de se manterem ou em casos mais extremos, a extinção do sistema.
Disciplina e competência são as palavras que melhor se encaixam para que o sistema de bike share tenha sucesso no Brasil. A bicicleta não deve ser mais vista como uma mera opção de lazer e seu uso para mobilidade urbana deve e precisa ser incentivado.
Bicicletas compartilhadas em Ribeirão Preto
Conforme foi citada na proposta de setembro em 2016, Ribeirão Preto possui uma pífia infraestrutura cicloviária; em todo caso é possível que pessoas possam utilizar a Ciclofaixa de Lazer mesmo não possuindo uma bicicleta.
Todos os domingos é disponibilizado nos parques Curupira e Luiz Carlos Raia um serviço de aluguel de bicicletas aos frequentadores. São bicicletas disponíveis para adultos, crianças e até mesmo bicicletas de dois lugares, conhecidas como bicicleta Tandem. A principal desvantagem é que o serviço funciona apenas durante o funcionamento da Ciclofaixa de Lazer, todos os domingos das 7:00 as 13:00.
Bicicletas na Ciclofaixa de Lazer em Ribeirão Preto Foto via: Revide |
Como não existe um grande número de ciclovias em Ribeirão Preto, tão pouco existe estudos sobre a quantidade de ciclistas ativos na cidade, implantar estações de compartilhamento de bicicletas seria algo a princípio desnecessário. A princípio.
Ideia utópica de hoje
A proposta de hoje é justamente a implantação de um sistema bike share, ou traduzindo, um sistema de bicicletas compartilhadas para Ribeirão Preto.
Atenção: apesar de ser uma proposta importante, ela não terá efeito nenhum se a parte mais difícil não for realizada, que a construção de ciclovias e ciclofaixas em Ribeirão Preto. Todas as sugestões de estações de compartilhamento estarão disponíveis no mapa Proposta - Plano Cicloviário de Ribeirão Preto 2016. Confira para ver a localização das estações de compartilhamento de bikes.
Para fins de marketing, o nome sugerido para o programa poderia seguir os moldes de Bike Sampa e Bike Rio, sendo assim o nosso sistema poderia ser chamado de Bike Ribeirão (que não tem nenhuma relação com o blog Bike Ribeirão Preto, que traz informações e dicas para o ciclista ribeirãopretano).
Exemplo de logo simples - Bike Ribeirão |
O programa funcionaria por meio de uma PPP (Parceria Público-Privada) onde a empresa seria responsável pela instalação das estações, aquisição das bicicletas, criação do sistema via aplicativo e toda manutenção que toda a estrutura venha necessitar. A prefeitura caberia a definição dos locais escolhidos, com intermédio da Transerp. A empresa teria liberdade para explorar publicidade nas bicicletas durante o período de contrato.
Cada estação acomodaria até 10 bicicletas, conforme a demanda da região onde ela fosse implantada. A princípio seriam 8 estações. Entre os principais critérios estariam:
- Proximidade de polos geradores de tráfego: locais onde é grande o fluxo de pessoas como faculdades, hospitais, shoppings e regiões comerciais como o calçadão;
- Integração com terminal e estações de ônibus: permite que as pessoas possam utilizar as bicicletas tão logo desembarquem dos coletivos ou vice-versa.
Ao contrário de paraciclos, as estações de compartilhamento não devem ficar em regiões isoladas da cidade, sob o risco de acontecerem casos de roubos e vandalismos. Preferencialmente elas devem ser instaladas de forma a garantir a segurança dos usuários que a utilizam.
Projeção da estação Calçadão Fotos via: G1.com e Via Trólebus |
Como Ribeirão Preto não é uma cidade em sua totalidade plana, pode ser estudado o caso para que algumas das estações tenham a disposição dos usuários, bicicletas elétricas.
Observação: as bicicletas neste caso seriam as do tipo pedelecs (bicicletas de pedal assistido), onde o motor elétrico só vai funcionar se o ciclista continuar pedalando. Se parar de pedalar ou a bike atingir velocidade de 25 km/h, o motor se desligará. Já as mopeds são equivalentes aos ciclomotores, pois elas funcionam mesmo se o condutor não a estiver pedalando.
Saiba mais: Sobre bicicletas elétricas
Outro benefício que o usuário do Bike Ribeirão teria seria a utilização do Cartão Cidadão como forma de liberar a bicicleta para locação. Medida que precisaria ser discutida entre Pró-Urbano, prefeitura e empresa patrocinadora.
Trabalho de divulgação
Infelizmente o uso do transporte individual em Ribeirão Preto é bastante forte, sendo que enquanto a quantidade de usuários de transporte público continua caindo, o número de carros e motocicletas na cidade tente a aumentar cada vez mais. Um sistema de ônibus que deixa a desejar e a total ausência de ciclovias na cidade colaboram muito para o aumento destes números.
Por isso o trabalho de divulgação do sistema de compartilhamento de bicicletas é muito importante, principalmente para convencer a adesão de novos usuários. Trabalho este que pode ser divulgado em escolas (crianças e adolescentes) e empresas (parceria com a ACIRP) mostrando todas as vantagens e benefícios para o uso do bike share.
Projeção da estação Terminal Urbano Dra. Evangelina Foto via: Acervo pessoal e Via Trólebus |
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A ideia da proposta não é abominar o uso do carro na cidade, mas sim incentivar para que parte destes trajetos realizados por transporte individual possam ser realizados via bicicletas compartilhadas. Conforme foi citado em propostas anteriores, todos os modais de transporte são importantes; caberá ao cidadão utiliza-los de maneira consciente.
Como expliquei alguns parágrafos posteriores, antes de tudo precisamos cobrar da prefeitura e vereadores que o plano cicloviário de Ribeirão Preto saia em definitivo do papel. Infelizmente não temos representantes dos ciclistas na cidade, o que torna o trabalho de cobrança ainda mais difícil. Já passamos da época de promessas eleitorais; agora queremos que elas sejam transformadas em projetos úteis e importantes para a cidade. Participe!
Obrigado e até a próxima postagem!
Links para pesquisa
Vá de Bike - pesquisa sobre bicicletas compartilhadas
O primeiro bike-sharing de bicicletas elétricas do Brasil
Entendendo as bicicletas compartilhadas
Guia de Bicicletas compartilhadas
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