terça-feira, 19 de julho de 2016

Extinção de valetas profundas

Atualização: 18/10/2018
Dica sugerida por Evandro Semighini (via Facebook)

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Confesso de demorei para lançar esta proposta pois a princípio ela parecia algo simples, mas o problema não envolve apenas a estrutura em si, mas todo um sistema mais complexo e técnico. Por isso por base nas sugestões do Evando e outras realizadas via pesquisa, tentarei passar algumas ideias na proposta desta semana.

Costuma-se dizer que "obra embaixo da terra não dá voto", talvez seja este o motivo de poucos políticos destacarem ideias de projetos de infra-estrutura que fiquem fora da visão do cidadão e prefiram outras mais chamativas como uma nova avenida, viaduto, creche, posto de saúde entre outros. Mas o verdadeiro chefe do executivo com visão empreendedora sabe que obras de infra ajudam na redução de gastos da prefeitura e evitam futuros problemas. Por hora, gostaria de falar sobre as chamadas valetas.

Carro com dificuldade em passar por valeta em Araçatuba - SP
Via: Jornal Noroeste SP
Elas estão presentes em muitas ruas e cruzamentos dos municípios e sua função básica é direcionar a água da chuva para bocas de lobo ou mesmo para córregos ou rios. São mais comuns em vias locais mas não é dificil encontra-las em vias com alto fluxo de veículos. É nesta parte que as valetas começam a mostrar suas desvantagens.

Uma valeta mal planejada pode trazer grandes prejuízos aos motoristas que por ela passam como:
  • Danos aos pneus e suspensão do veículo, sejam carros de passeio ou veículos de carga ou transporte público, principalmente para veículos que passem por ela na diagonal em relação a via;
  • Riscos de quedas e acidentes a motociclistas e ciclistas;
  • Atrasa o fluxo da via, por conta da redução excessiva de velocidade;
  • Grande desconforto para passageiros, principalmente usuários de transporte público, devido aos solavancos causados ao passarem pela valeta.
E acredite, as valetas causam tantos prejuízos que são usadas até por bandidos para dificultar a chega da polícia em bairros da periferia de algumas cidades.

Valeta com buracos no bairro
Jardim Irajá em Ribeirão Preto
Foto via: G1

Raio X de uma valeta

As valetas, em teoria, teriam a função de direcionar as águas pluviais sem prejudicar a passagem de veículos pelo local. Com base em alguns modelos existentes, segue um esquema simples de como seriam as valetas adequadas (clique nas imagens para ampliar):


Mas na realidade estes tipo de valetas são bastante difíceis de encontrar, sendo que o modelo mais comum visto nas ruas é justamente as valetas profundas:


O ex-secretário de transportes internos de Piracicaba chegou a ser mais radical em dizer que as valetas não funcionam e atual mais como um mero placebo (pelo menos por parte da prefeitura) para resolverem a curto prazo um problema de longo prazo. Motivos que concordo com o ex-secretário.


Valetas em Ribeirão Preto

Em Ribeirão a situação não é diferente. É muito comum encontrarmos valetas totalmente fora das especificações técnicas. Entre os problemas estão:

  • Profundidade excessiva das valetas;
  • Pavimento gasto, provocando buracos em torno da valeta;
  • Falta de sinalização de advertência alertando sobre a presença de valetas (placa A-19 Depressão);
  • Recapes realizados próximos as valetas sem a adaptação da mesma, propiciando a criação de "degraus";


Como se não bastasse a falta de alternativas para as valetas e ausência total de manutenção das mesmas, já se foi ouvido da própria prefeitura de Ribeirão Preto que as valetas tem a função de "reduzir a velocidade dos veículos".

Eu mesmo não acreditei quando ouvi tamanho absurdo. Se a prefeitura quer reduzir a velocidade dos veículos, que se utilize dispositivos de Traffic Calming, que alem de cumprirem sua função, não danificam os veículos que por ali passagem. Esta resposta com certeza não veio de um profissional, mas sim de uma pessoa absolutamente despreparada em resolver os problemas da cidade.

Valeta acentuada em Piracicaba - SP
Via: Câmara de Piracicaba


Ideia utópica de hoje

Como disse no começo da postagem, as alternativas que serão propostas ajudam a resolver o problema das valetas profundas, mas que outras medidas mais complexas precisam ser executadas. Conforme o guia abaixo, as alternativas seriam:
  1. Criação de valetas adequadas em vias de baixo fluxo de veículos;
  2. Eliminação de valetas em vias de médio e alto fluxo;
  3. Tubulação sob o asfalto;
  4. Implantação de bocas de lobo;
  5. Bueiros inteligentes;
  6. Criação de uma plano de macro drenagem;
1- Criação de valetas adequadas em vias de baixo fluxo de veículos

Em locais que não compense financeiramente ou estruturalmente a instalação de bocas de lobo (mesmo eu acreditando que todas as esquinas devam te-las), é possível a criação de valetas eu via locais (preferencialmente residenciais) de forma que não prejudiquem o fluxo de veículos. Podem ser construídas usando blocos sextavados, paralelepípedos ou concreto, desde que sejam perpendiculares a sarjeta.

Valeta em rua do Ipiranga. Mesmo não sendo perpendicular,
a profundidade da mesma é bem mais suave
em comparação com outras espalhadas pela cidade.
Via: Google Street View
2- Eliminação de valetas em vias de médio e alto fluxo

Ruas com tráfego intenso não devem ter valetas por menor que seja sua interferência. Ruas como a Marques de Pombal nos Campos Elísios devem ser desimpedidas de qualquer elemento que provoque lentidão ou danos nos veículos que por ela passam. Para isso seguem as sugestões dos itens a seguir.

Valetas na Marques de Pombal próximo a praça Rômulo Morandi.
Inadmissível em uma via que inclusive é também corredor de ônibus
Via: Google Street View
3- Tubulação sobre o asfalto

Dica enviada pelo Evandro Semighini. Na esquina das ruas Barão do Amazonas com Prudente de Morais no Centro, foi instalado um cabo sob o pavimento no lugar de uma valeta convencional. Esta seria uma alternativa boa para ruas específicas.

Tubulação instalado como alternativa as valetas. Em destaque
a seta verde indica o bocal de saída do cano enquanto a
linha verde a trajetória do mesmo.
Via: Google Street View
4- Implantação de bocas de lobo

As bocas de lobo promovem a drenagem das águas até as galerias pluviais. Podem ser do tipo localizado nas guias ou nas sarjetas da via. Devem ser instaladas de forma a não acumular água e não prejudicar a travessia de pedestre (sendo instaladas antes da travessia para pedestres) e passagem de veículos, alem de impedirem que a água atravesse o cruzamento.



Esquerda um modelo de boca de lobo de guia - Direita: boca de lobo de sarjeta
Fotos via: Ebanataw
Instalação adequada das bocas de lobo em um cruzamento
Foto via: Ebanataw
A boca de lobo não deve ter uma abertura muito grande (para evitar a queda de pessoas, principalmente de crianças em situações de grandes enxurradas) e nem muito pequenas (para evitar que detritos como garrafas, papeis, latas e etc venham a entupir a entrada da boca de lobo).


Atenção: não confunda bocas de lobo com poços de visita ou poços de inspeção, que possuem tampas redondas e normalmente ficam no cruzamento das vias e calçadas. Estas estruturas servem para que funcionários possam entrar e fazerem a manutenção necessária.

5- Bueiros inteligentes

Aproveitando a ideia anterior, parece estranho permitir que lixo entre bueiro a dentro, provocando futuros entupimentos do sistema. Por isso cidades como São Paulo estão instalando os chamados bueiros inteligentes. Uma das medidas é instalar uma espécie de cesta dentro do bueiro chamados de Ecofiltros, evitando que este lixo caía na rede de drenagem. O sistema facilitaria sua limpeza e diminuiria os custos envolvidos no processo.

Ecofiltro instalado em bueiro de SP
Via: Revista Qual Imóvel
Funcionários fazendo a limpeza de ecofiltro em bueiro
Via: Prefeitura de São Paulo
Outra forma de acompanhar o estado dos bueiros é com a instalação de chips que detectam a situação atual da estrutura, alertando sobre entupimentos e prevenindo possíveis alagamentos.


6- Criação de um plano de macrodrenagem

Todas as medidas acima se tornarão mais eficientes caso a cidade bote em prática o Plano Diretor de Macrodrenagem, engavetado pela prefeitura desde 2009. A grosso modo estamos falando de saneamento básico, algo que envolve abastecimento de água, destinação de águas pluviais, coleta de lixo e rede de esgoto. Ele é composto por:
  1. Drenagem urbana convencional
    1. Sarjetas;
    2. Bocas de lobo;
    3. Galerias;
    4. Despejo em rios;
    5. Canalização de córregos.
  1. Técnicas de manejo sustentável
    1. Telhados ecológicos;
    2. Pavimento poroso;
    3. Valas e poços de infiltração;
    4. Microrreservatórios;
    5. Telhado reservatório;
    6. Restauração de margens;
    7. Faixas de infiltração;
    8. Reservatórios de amortecimento.
Para maiores informações, consulte o PDF direto do site Soluções para Cidades.

Vale lembrar que todas estas propostas precisam ser discutidas pela sociedade através de consultas e audiências públicas, de forma bastante clara e objetiva. O processo mais complicado seria adaptar as áreas já construídas da cidade e que não oferecem esta infraestrutura básica e cobrar de construtoras que os futuros empreendimentos imobiliários como loteamentos e condomínios, sigam a risca estas propostas, para não repetirmos os erros cometidos no passado.


Se você gostou da proposta, compartilhe com seus amigos, familiares e associação de bairros. Saneamento básico é direito básico de todos os moradores de uma cidade. Um debate técnico e sem meras promessas políticas é fundamental neste caso.

Até a próxima postagem!


Links para pesquisa
Valetas em ruas no bairro Jardim Virgínia causam prejuízos a motoristas
Manejo de águas pluviais urbanas (em PDF)
Planejamento de Sistemas Municipais de Drenagem e Manejo de Águas Pluviais (em PDF)
UOL TAB - Desenhe sua cidade: proposta quatro - Bueiros Conectados
Sistema inteligente de monitoramento em bocas de lobo evita enchentes na região de Santana
Boca de lobo - Informações gerais

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